Segundo o Banco Mundial, cerca de 80% do PIB mundial é gerado nas cidades, consequentemente, nelas também são consumidos dois terços da energia global, o que gera grande parte das emissões de gases de efeito estufa (GEE) para a atmosfera. Além disso, dados do Programa de Assistência à Gestão do Setor Energético, indicam que as cidades estão sofrendo um aumento de temperatura a uma taxa duas vezes maior que a média global devido ao efeito das ilhas de calor urbano.
Esse contexto traz as cidades e o processo de urbanização para o foco das atenções pelos impactos que causam – e que sofrerão – em relação à mudança climática, especialmente as populações mais vulneráveis. Nesse cenário, o sucesso do combate à crise climática também passa por um olhar atento sobre o processo de construção civil.
De acordo com dados do World Economic Forum (2022), cerca de 70% das emissões dos edifícios são operacionais (aquecimento, ventilação, ar-condicionado, iluminação, servidores de TI etc), enquanto os 30% restantes são emissões incorporadas, ou seja, carbono gerado pela fabricação de materiais de construção, a construção em si e mobiliário interno.
Para mitigar as emissões é fundamental tornar a cadeia da construção civil mais circular, se distanciando da lógica linear de produção, uso e descarte, promovendo a redução e reaproveitamento de resíduos, adotando soluções nos projetos que facilitem o retrofit e outras medidas que prolonguem a vida útil dos edifícios. Um modelo mais circular para o ecossistema da Construção Civil tem o potencial de reduzir até 38% das emissões do setor até 2050.
Para as emissões operacionais dos edifícios, a redução pode vir através da adoção de tecnologias de automação predial, eletrodomésticos eficientes e fontes de energia renovável. Já para as emissões incorporadas, uma boa prática é a parceria com os fornecedores dos insumos mais carbono intensivos, visando uma produção mais sustentável.
Dessa forma, é necessário que haja uma ação coordenada em todas as esferas da cadeia de construção civil, integração de critérios de sustentabilidade em políticas públicas e investimentos em inovação e pesquisa. O contexto é desafiador, mas as empresas que se adaptarem terão vantagens competitivas e serão percebidas como agentes de mudança positiva.
Autores
Felipe Bittencourt, Cofundador e CEO da WayCarbon
Graduado em Engenharia Civil e História pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), possui mestrado e doutorado em Mudança Climática pela Universidade de Oxford. Possui 20 anos de experiência em Consultoria Climática para governos e grandes corporações em diferentes setores, além de ter atuado em entidades como o Banco Mundial e o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).
André Lara, Coordenador de Mitigação na WayCarbon
Graduado em Engenharia Química pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), tem MBA em gestão de Projetos e Especialização em Sustentabilidade e ESG. Com mais de 20 anos de experiência, atuou em grandes empresas de diferentes segmentos como Natura, Whirlpool e Votorantim, em cargos de gestão nas áreas de Operações, Desenvolvimento de Produtos, Inovação e Sustentabilidade.