“Eu não sou de resistir, eu sou de reexistir”. (Zé Celso)
A frase dita durante uma entrevista, em 2017, ganhou novo significado na última quinta-feira (6), com a morte de José Celso Martinez Corrêa, o Zé Celso. Aos 86 anos, o dramaturgo, diretor, ator e encenador deixa um legado celebrado por milhares de amigos, admiradores e apaixonados pelas artes. “Zé Celso era potência, referência e criatividade, lamentamos profundamente a partida de um dos dramaturgos mais inovadores do Brasil, mas também celebramos sua vida e obra, que é viva!”, afirma a ministra da Cultura, Margareth Menezes.
A líder do MinC destaca, ainda, a atuação de Zé como defensor da democracia. “Ele usou o teatro para exaltar a liberdade e afrontar os arbítrios da ditadura militar. Com a sua partida, a cultura brasileira perde parte grande de seu brilho e irreverência. Zé Celso, presente!”, completa.
Uma vigília marcou o “Rito de Transmutação” que celebrou a vida do dramaturgo. Durante toda a madrugada e a manhã desta sexta-feira (7), centenas de pessoas passaram pelo Teatro Oficina para prestar suas homenagens. Maria Marighella, presidenta, e Leonardo Lessa, diretor Executivo da Fundação Nacional de Artes (Funarte) representaram o Ministério da Cultura (MinC) no ato e, em nome da ministra, transmitiram uma mensagem à imensa família construída pelo diretor.
“Encantou-se um dos seres mais encantados de que temos notícias. Um espírito livre, uma vida e alma insurgentes. Fez do teatro caminho por onde caminharam gerações incontáveis de gentes. Criou uma ética com esse saber que jamais morrerá. O imenso e genial Zé nos lega infinitas contribuições, mas também o horizonte de renascer Rio, Parque, Floresta, Natureza. Ouvir o que nos tem a dizer será nosso horizonte e farol. Zé infinito!”, declarou Maria logo após a homenagem-despedida.
O secretário Executivo do Minc, Márcio Tavares, também prestou uma homenagem. “Zé Celso não se foi, apenas mudou de cenário ou palco. Sentiremos, sim, falta de sua presença física, mas ele é um ser da arte. A arte que o eterniza”.
Marcelo Drummond, companheiro de Zé Celso há 37 anos, mas com quem oficializou a união há um mês, lembrou: “O Zé é vida. O Zé, ele ensinou isso pra gente. Ele ensinou que tem que ter vida o tempo inteiro, que tem que ter força pra segurar a vida. Então, não é pra cair no drama. É pra viver a tragédia e seguir em frente”, afirmou.
Vida e Obra
Nascido em 1937, em Araraquara, interior de São Paulo, Zé Celso escreveu sua primeira peça, Vento Forte Para Um Papagaio Subir, em 1958. No mesmo ano, fundou o grupo Teatro Oficina Uzyna Uzona. Desde então, o estudante da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, em São Paulo, se dedicou aos palcos e se firmou como um dos principais encenadores da década de 1960.
Fez Pequenos Burgueses (1963), O Rei da Vela (1967), de Oswald de Andrade, Roda Viva (1968), com trilha sonora de Chico Buarque. Foi preso e exilado pela censura, em 1974. Seguiu para Portugal, onde gravou o documentário O parto, sobre a Revolução dos Cravos. Ainda longe de casa, na África, filmou Vinte e Cinco, sobre a independência de Moçambique.
Voltou ao Brasil, em 1978, e conseguiu o tombamento do Teatro Oficina, em 1982. A reinauguração do espaço veio onze anos mais tarde, com a estreia de Ham-Let – um de seus textos mais aclamados. Resistiu à repressão, ao tempo, à pandemia da Covid-19. Manteve as sessões do Oficina com lotação máxima, porque Zé Celso é ousadia, mas também é um legado que vai muito além da arte.
Evoé, Zé Celso. Evoé!