Santa Catarina é o estado pequeno prodígio do Brasil quando o assunto é tecnologia e inovação. Em relação ao número de startups, o estado fica atrás apenas de São Paulo, segundo dados da Associação Brasileiras de Startups (Abstartups). Natural que as empresas locais estejam ganhando destaque na busca de soluções inovadoras usando Inteligência Artificial (IA).
Com o surgimento e popularização do ChatGPT, a inteligência artificial (IA) mostra-se fundamental para um novo salto de desenvolvimento tecnológico, tanto quanto vem gerando preocupação no mundo do trabalho, tendo em vista o inequívoco impacto com demissões e até mesmo o desaparecimento de profissões muito recentes na área de TI. Para o vice-presidente de marketing da Associação Catarinense de Tecnologia (ACATE), Walmoli Gerber Jr., não há necessidade para tanto pânico. Ao invés disso, as pessoas e empresas devem focar em como ela pode ajudar:
— Não creio que seja algo tão assustador. Ela vai mudar uma série de profissões, sim, mas também vai ajudar a criar outras, como quase todas as inovações tecnológicas que vieram antes. O recado que eu costumo dar é o seguinte: precisamos aprender a usar a Inteligência Artificial o mais rápido possível onde ela ajuda no nosso dia a dia.
A visão otimista do empresário não minimiza o nível de alerta e mobilização no campo trabalhista e socioeconômico.
Por outro lado, empresas catarinenses vem explorando o potencia da IA para encontrar soluções para melhorar a vida de gestores públicos, empresários e da comunidade global. No turismo, o leque de aplicações da IA parece ser tão vasto quanto o número de destinos, roteiros e experiências disponibilizados para bilhões de turistas. Imagine a cena em um quarto de um hotel. Um viajante acaba de chegar em um novo destino e pergunta ao celular o que fazer “ali”. Graças à ferramenta, ele não precisa mais se dedicar a criar o roteiro perfeito para a sua viagem: além de entender o que “aqui” significa, o software é capaz de personalizar as indicações de acordo com seu histórico de interações.
Entre outras facilidades que a IA pode trazer para o setor do turismo, podemos apontar a segurança no monitoramento e identificação de atividades suspeitas em aeroportos, hotéis e pontos turísticos diversos. Além disso, a tecnologia pode ser usada para rastrear bagagens extraviadas e auxiliar os clientes a localizar os seus pertences.
IA aplicada à governança do Turismo
Em resumo, o leque de aplicações de IA parece ser inesgotável para um setor em que a coleta e análise de dados tem sido um desafio, o que, consequentemente, dificulta a criação de estratégias e melhorias. Com uso de vários tipos de tecnologia — Inteligência Artificial, QR Code, Internet das Coisas, entre outras.
A startup Smart Tour, lançada em 2018, tem ajudado a coletar e traduzir essas informações para os gestores públicos, como prefeituras e secretarias de turismo, além de outros órgãos que tomam decisões na área.
Uma das formas utilizadas pela empresa para coletar os dados é por meio dos beacons, aparelhos que ficam dentro de placas espalhadas por pontos turísticos de uma cidade. Ao apontar o celular para o QR Code, o turista recebe conteúdo, como curiosidades sobre aquele local, e o beacon coleta os dados da pessoa. Em Florianópolis, a tecnologia já está em 17 pontos.
Outro meio utilizado para conseguir informações dos visitantes é por meio de geolocalização, por aplicativos usados pelas pessoas.
É importante destacar que a empresa não coleta dados pessoais sensíveis, ou seja, não há interesse em saber quem é aquela pessoa, somente mapear o fluxo e comportamento dos turistas, como os valores que são gastos, de onde as pessoas vêm, como elas chegaram na cidade, quantos dias vão ficar aqui, entre outros, como explica a fundadora da Smart Tour, Jucelha Carvalho.
Apesar de ter sido fundada em 2018, foi só no ano passado que a startup começou a utilizar Inteligência Artificial, com o objetivo de traduzir as informações coletadas aos gestores.
— Até o ano passado, quando começamos a implementar a IA, a gente entregava só as informações para o gestor. Só que os gestores não sabiam olhar para os dados e transformar isso em ações efetivas. Quando a IA entrou, isso ficou mais fácil, porque o sistema especialista começou a analisar […] Você consegue hoje entender de uma forma simples e prática o que todos esses dados estão falando — explica Jucelha.
A IA é capaz de detectar problemas públicos, sugerir ações de melhoria e identificar padrões e tendências nos destinos monitorados. Isso possibilita a tomada de ações para melhorar a infraestrutura e os serviços turísticos. O sistema da Smart Tour está integrado à API do GPT-4 da OpenAI, uma das tecnologias mais avançadas na área.
De acordo com a fundadora, é um sistema complexo, do ponto de vista de arquitetura, mas é simples na ponta. Ou seja, chega para o gestor de forma muito clara.
A startup já monitora mais de 1 mil pontos turísticos no Brasil em 135 cidades, sendo que o maior foco em números está no Nordeste, Minas Gerais e Rio de Janeiro. Em Santa Catarina, a empresa atua em Florianópolis, Urubici, Mafra e Jaraguá do Sul.
Fonte: ACATE