Por trás do hábito de “renovar o guarda-roupas” com frequência existe uma realidade obscura: Em média, uma pessoa utiliza uma peça apenas sete vezes e depois joga fora, segundo um estudo divulgado pelo jornal britânico The Telegraph. “A indústria da moda é a que mais cresce e a projeção é de que triplique até 2050. Com todo esse crescimento, ela se tornou a segundo maior poluente do mundo, ficando atrás apenas da indústria petroquímica”, aponta Paulo Jubilut, professor de biologia no Aprova Total e Mestre em Ciência e Tecnologia de Meio Ambiente.
Um dos tecidos mais utilizados nas peças é o poliéster, feito a partir do petróleo. Todos os anos são necessários mais de 70 milhões de barris de petróleo para atender à demanda anual de produção de poliéster no mundo — cada barril tem 159 litros. Além disso, a manufatura do poliéster exige muita água utilizada durante o processo. Sem contar que a maioria dos tipos de poliéster não são biodegradáveis — então aquela “blusinha” descolada pode levar 200 anos para se decompor na natureza.
Além disso, o professor Jubilut explica que o tecido pode soltar até 1900 microfibras. “Tudo isso vai para as tubulações de esgoto, depois para os rios e oceanos. Os animais acabam se alimentando dessas partículas, que são absorvidas pelo corpo do animal, e passam de um animal para outro ao longo da cadeia alimentar.”
O Brasil é o nono país mais consumista em termos de roupas e acessórios – um solo fértil para a expansão da indústria de “fast fashion” (“moda rápida”, em tradução literal). O modelo se caracteriza por peças de roupa fabricadas em larga escala, com os menores tempo e custo possíveis. Elas vão para o mercado com preços baixos, e em pouco tempo são completamente descartadas pelos clientes.
Paulo Jubilut explica que boa parte das roupas de fast fashion são produzidas em Bangladesh, onde acontece a exploração do trabalho infantil e cargas abusivas de trabalho. “As trabalhadoras (são na grande maioria mulheres) recebem centavos por dia, menos que o suficiente para comprar comida”, menciona. Além de custar muito para as pessoas que vivem essa realidade, a indústria da moda é responsável por pelo menos 10% de toda a emissão de CO2 no mundo.
O algodão usado nas roupas vem em grande parte da Índia, da China, dos Estados Unidos e do Brasil, quarto maior produtor de algodão do planeta. Esse algodão sai das plantações, viaja para o México para passar pelo processo de descaroçamento e tecelagem, e depois de processado vai para países como Bangladesh, onde as roupas são confeccionadas. Quando as peças ficam prontas, viajam para a Colômbia, onde as etiquetas são fixadas, e depois vêm finalmente para o Brasil, Estados Unidos, e outros países do continente americano, para serem vendidas em lojas.
A reciclagem seria a solução ideal?
O especialista explica que as fibras são uma mistura de algodão com plástico, e para separar os dois componentes geraria tanta energia e o gasto de recursos naturais que o investimento seria muito alto. “Poucas empresas têm interesse em destinar verba para essa ação”, reforça. A solução deverá ser uma construção coletiva. Jubilut aponta que as pequenas atitudes são as que mais fazem diferença.
“Se você tem uma festa ou um evento de grande porte para ir, pode alugar ou pegar emprestada a roupa de alguém”, reforça. “Outra dica importante é procurar roupas de segunda mão: você pode combinar com seus amigos ou parentes de trocarem as roupas. Ou até mesmo criar um novo hobby: visitar brechós e garimpar um look que só você vai ser capaz de criar. É sério, você vai ficar surpreso com a quantidade de coisas de qualidade que existem nesses lugares, peças de roupas que as pessoas às vezes nem usam direito e já colocam para vender.