O Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB) alcançou pela primeira vez, nesta 17ª edição dos Jogos Paralímpicos, em Paris, o top 5 do ranking. O País ficou com o quinto lugar da competição conquistando 89 medalhas, superando o recorde da edição de 2021, em Tóquio, quando ficou em sétimo no quadro de medalhas. O encerramento da Paralimpíada de Paris aconteceu no dia 8 de setembro, após 11 dias de torneio no maior evento do esporte para pessoas com deficiência.
Michele Viviene Carbinatto, doutora e docente em Educação Física pela Escola de Educação Física e Esporte (EEFE) da USP, comenta os possíveis motivos para o alto desempenho dos atletas paralímpicos. “O movimento paralímpico brasileiro tem sido muito bem organizado. Por exemplo, no site oficial do Comitê Paralímpico Brasileiro são oferecidos diversos cursos de capacitação. Nas graduações, existe atualmente a obrigatoriedade do estudo do esporte para pessoas com deficiência. No Brasil temos também as bolsas atleta e paratleta, que são um incentivo que cada vez mais atrai as pessoas a entrarem no mundo do esporte”, explica.
O Brasil terminou esta Paralimpíada como uma das grandes potências do esporte paralímpico no mundo. Resultado que é fruto de uma crescente que vinha já das últimas edições, o time brasileiro figurou no top 10 das últimas quatro competições (9º em Pequim 2008, 7º em Londres 2012, 8º na Rio 2016 e 7º em Tóquio 2021).
“Além da qualidade teórica e técnica dos grupos de trabalho de desenvolvimento do esporte paralímpico, desde gestores a treinadores, temos também no Brasil o Centro Paralímpico, legado dos jogos de 2016, que é algo que não se vê em muitos países. Existe um conjunto de fatores para desenvolver o esporte paralímpico. É um esforço admirável”, completa a professora.
Missão dada é missão cumprida
A Delegação Brasileira, antes do início desta edição dos jogos, tinha dois grandes objetivos: quebrar os seus recordes anteriores e alcançar uma colocação histórica no quadro de medalhas, ficando pela primeira vez no top 5.
Para atingir essa meta, o CPB convocou para Paris a maior delegação para uma edição dos jogos fora do Brasil. Foram 255 atletas com deficiência, além de 19 atletas-guia, três calheiros da bocha, dois goleiros do futebol de cegos e um timoneiro do remo.
Ao todo, foram 280 representantes do Brasil, e todos com a mesma missão. O cenário, ao final da competição, foi o melhor imaginado. O almejado top 5 foi alcançado e o recorde, que antes era de 72 pódios e 22 ouros em Tóquio 2020, foi quebrado. A nova marca é agora de 89 medalhas, das quais 25 são de ouro.
Os três primeiros lugares foram ocupados por grandes potências do esporte: China, com 220 medalhas, sendo 94 ouros; Grã-Bretanha, com 124 pódios e 49 ouros; e Estados Unidos, primeiro lugar em 36 dos 105 pódios alcançados. A Holanda, que ficou em quarto lugar, terminou a competição com um total de 56 medalhas, 33 a menos que o Brasil, mas ficou na frente dos brasileiros por conta de dois ouros a mais.
Com os 89 pódios da edição, o Brasil agora passa da marca de 450 medalhas ao longo das 17 edições dos Jogos Paralímpicos. Na história da competição, as modalidades de maior destaque do time brasileiro são o atletismo, com 170 medalhas, e a natação, com 125. As duas também são as modalidades que mais levaram atletas brasileiros para Paris, com 71 no atletismo, além de 18 atletas-guia, e 37 nadadores.
Proporcionalmente, os dois esportes foram os responsáveis por grande parcela das medalhas conquistadas. No atletismo foram 35 medalhas, com dez ouros, e na natação o Brasil ficou sete vezes em primeiro de 26 pódios alcançados.
Um dos muitos destaques foi Carol Santiago. Com cinco medalhas, três ouros e duas pratas, a nadadora foi a atleta brasileira que esteve em mais pódios na edição. Nas piscinas foi também onde Daniel Dias reinou por muito tempo. Ao longo de quatro edições, o nadador somou 27 medalhas, sendo 14 de ouro, sete de prata e seis de bronze. Daniel, que não foi para Paris, segue sendo o maior medalhista paralímpico da história do Brasil.
Destaque no esporte mas longe das telas
Apesar do grande destaque dos brasileiros durante a Paralimpíada, a comoção do público parece não ter sido proporcional. O que pode explicar isso é a cobertura televisiva, principalmente se comparada às transmissões da Olimpíada.
Pouco mais de duas semanas antes do início dos Jogos Paralímpicos, aconteceu também em Paris a 33ª edição dos Jogos Olímpicos. O Time Brasil voltou para casa com 20 medalhas conquistadas, sendo três ouros, sete pratas e dez bronzes. O resultado interrompeu a crescente que a delegação brasileira vivia desde a edição de Atenas, em 2004.
A quantidade de medalhas, porém, parece discordar de outro número: a audiência. A cobertura dos Jogos Olímpicos de 2024 atingiu altos números de telespectadores. Na Globo, de acordo com dados oficiais divulgados pela emissora, foram mais de 140 milhões de pessoas alcançadas pelos seus canais, contando TV aberta, os quatro canais SporTV (que teve um sinal extra aberto apenas para a cobertura), Globoplay e GE.
Outro grupo que contou com os direitos de transmissão da Olimpíada foi a CazéTV, do streamer Casimiro Miguel. A CazéTV, assim como o Grupo Globo, transmitiu diversos esportes durante todos os dias da competição e, apenas no YouTube, foram 41 milhões de dispositivos alcançados. Além desse número, o conteúdo do grupo criado para o TikTok alcançou a marca de 5 bilhões de visualizações no total.
Analisando os números atingidos em audiência durante a Olimpíada, era de se imaginar que os índices seriam proporcionais durante os Jogos Paralímpicos, principalmente considerando-se o desempenho dos atletas paralímpicos. Tal expectativa não foi atendida.
Fonte: Jornal da USP