Sem pensar muito, o que você diria que ecodesign significa? Provavelmente a resposta será rápida e simples: um design ecológico. Mas o que realmente isso significa? O que está por trás desse conceito que transita em diferentes indústrias e que pode mudar a forma como produzimos e consumimos?
Segundo a Agência Europeia do Ambiente (EEA – European Environment Agency), o ecodesign considera os aspectos ambientais em todas as etapas do processo de desenvolvimento do produto, a fim de que ele tenha o menor impacto ambiental possível ao longo do seu ciclo de vida. Para isso, é necessária a integração dos aspectos ambientais, requisitos ecológicos e econômicos.
E quando falamos em design é preciso olhar para o termo de forma mais ampla, bem além das questões de formato ou aparência. O design está em tudo e é a base da formação de um produto ou serviço. A conceção ecológica de um artigo ou serviço significa torná-lo desejável para as pessoas, minimizar o seu impacto ambiental e maximizar o seu impacto empresarial ao longo do seu ciclo de vida, concebendo um sistema circular em torno dele, explica o Guia de Sustentabilidade, iniciativa apoiada pelo Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional.
Para reduzir ao mínimo esse impacto ambiental, buscam-se soluções de design inovadoras que levam em consideração desde a extração de matérias-primas até a produção, distribuição e uso, incluindo os famosos 3R: reduzir, reutilizar (reparar) e reciclar. Isso envolve, por exemplo, repensar o design de uma bolsa para que use menos material têxtil (desperdício mínimo), que a sua fabricação seja mais simples e, portanto, menos intensiva em energia (exemplo: uma costura em vez de três), que seja mais facilmente reciclável quando chegar ao fim da sua vida útil, entre outros.
Produção sustentável, a principal aliada do ecodesign
Sabemos que a produção industrial pode tender para um desempenho ecológico sustentável. No entanto, a emergência ecológica e os objetivos do Acordo de Paris tornam necessário completar os preceitos da ecologia industrial tal como é pensada desde os anos 1990. É preciso fazer muito mais e repensar no que é necessário para que produção e produtos sejam de fato mais sustentáveis.
Pensando na prática do ecodesign, podemos dizer que são indispensáveis os seguintes aspectos:
- Qualidade: Uma roupa mais ecológica é, antes de tudo, uma roupa que dura mais tempo. Uma camiseta desgastada após três lavagens terá uma forte pegada de carbono em comparação com uma camiseta feita para durar vários anos
- Distribuição: Produzir em larga escala, e depois despachar tudo por avião para enviar a outros países é obviamente catastrófico. O desafio é, portanto, tornar a cadeia de distribuição mais ecológica, em particular a transferência dos fluxos aéreos para os ferroviários e marítimos. Além claro, de investir em produções locais, que também estimulam a economia nacional, fomentando emprego e renda.
- Produzir menos e melhor: O importante, sublinham os pesquisadores, é que agora devemos consumir menos E melhor. Isso passa por alternativas como fibras orgânicas, materiais reciclados e recicláveis, e ainda por processos produtivos eficientes, no volume adequado, sem desperdícios.
A indústria têxtil e o ecodesign
Em 2015, reunidos para a COP 21 em Paris, os países do mundo propuseram um objetivo essencial para a sobrevivência do planeta: alcançar a neutralidade de carbono até 2050. Um desafio imenso, frente ao qual muito ainda precisa ser feito.
Mas uma afirmação é certa: será preciso acelerar. Porque, segundo a McKinsey, se a indústria continuar sua transição ecológica no ritmo atual, suas emissões chegarão a 2,1 bilhões de toneladas de CO2 por ano em 2030. Isso é mais do que o dobro do máximo necessário para permanecer na trilha para o aquecimento global de +1,5°C.
Entre os principais hábitos que devemos mudar estão a forma como consumimos, claro, mas também, a forma como produzimos. Como é possível continuar a confeccionar objetos úteis, importantes para o nosso dia a dia, sem prejudicar a biodiversidade, a água, o ar e o clima? A pergunta de milhões!
Para começar, vamos lembrar de um fato óbvio, mas pouco animador: produzir polui. Seja qual for a escala, seja qual for o produto, isso é uma realidade. Claro, nem todas as produções têm o mesmo impacto.
Fabricar um carro, por exemplo, plantar um tomate ou imprimir um livro geram diferentes graus e tipos de externalidades negativas. Mas de grosso modo, quando você faz um bem de consumo, não existe impacto zero. O setor têxtil está bem ciente disso.
Atualmente a média de consumo de roupas por pessoa é 60% maior que 15 anos atrás e cada peça dura a metade do tempo que costumava durar no passado. Isso faz com que o setor de vestuário seja um dos mais poluentes em emissões de CO2 – é o que aponta o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma).
Acelerar a transição ecológica do setor passa por oferecer produtos cada vez mais sustentáveis. Um objetivo aparentemente simples, mas que envolve mudanças estruturais de concepção, produção e comercialização de artigos em todo o mundo, como mencionamos acima. O direcionamento é claro: as marcas precisam desenvolver peças que sejam úteis sem prejudicar territórios e recursos naturais.
Ecodesign na prática
A Decathlon, maior loja de artigos esportivos do mundo, com 51 unidades no Brasil, estabeleceu a meta de ter 100% do seu catálogo de produtos com ecodesign. A companhia divulgou um compromisso com a sustentabilidade que permeia toda a cadeia produtiva e unidades de negócio e, até 2026 a meta da empresa é reduzir globalmente em 20% a emissão de CO2 (versus 2021) e um dos caminhos para atingir esta meta é o ecodesign. Hoje, esses artigos com o selo de ecodesign representam 38,14% do faturamento da empresa globalmente. Uma grande evolução se compararmos com o índice de 2022, que era de 23%.
Para que a empresa reconheça a presença do ecodesign, um produto deve reduzir em pelo menos 10% (relativamente ao modelo anterior) o seu impacto em pelo menos dois dos seguintes indicadores: alterações climáticas, poluição do ar, poluição da água e esgotamento de recursos.
Além disso, a Decathlon foca em três frentes de atuação:
ECODESIGN NAS MATÉRIAS-PRIMAS
- O poliéster reciclado é um material recuperado, transformado a partir de sobras de produção ou de produtos destinados a serem descartados, evitando o uso de novos recursos petrolíferos. Para ser considerado ecodesign, o tecido principal deve ser composto por pelo menos 70% dessa matéria-prima.
- O uso de algodão reciclado é uma solução interessante, pois não requer o cultivo adicional de algodão. No entanto, isso é possível apenas em até 30 a 40% no máximo, pois as fibras recicladas são mais curtas e precisam ser misturadas com algodão virgem. Na Decathlon, para que uma peça seja qualificada como ecodesign, o tecido principal deve ser composto por pelo menos 28% desse tipo de algodão.
- Já o algodão orgânico é cultivado sem o uso de fertilizantes químicos, pesticidas e organismos geneticamente modificados, o que reduz o risco de poluição do solo e dos lençóis freáticos. Esse método de produção, por meio de práticas ambientais mais conscientes, permite um melhor manejo do cultivo do algodão. Na varejista, o tecido principal deve ser composto por mais de 90% de algodão proveniente da agricultura orgânica para ser ecodesign.
ECODESIGN NA TINTURA
A coloração de tecidos é um processo com alto impacto ambiental, consumindo energia e envolvendo o uso de grandes quantidades de água e produtos químicos nos banhos de tingimento. Para reduzir ao máximo o consumo, a Decathlon escolhe, sempre que possível, um dos seguintes processos:
- Tingimento com menor consumo de água: isso envolve integrar a cor diretamente na fabricação do fio. A vantagem é economizar energia e água.
- Tingimento de um fio a cada dois: sempre com o objetivo de reduzir o consumo de água, a empresa utiliza dois tipos de fios em seus processos de fabricação: um fio tingido e outro não tingido.
- Tingimento sem tintura: a cor do tecido no estado bruto, ou seja, sem nenhuma tintura, é chamada de “greige”. Optar por essa cor significa escolher a cor que causa menos poluição.
- Tingimento a seco: esse processo funciona com dióxido de carbono (CO2) em um circuito fechado, sendo reutilizável em até 95%. Sob pressão e temperatura adequadas, o CO2 adquire propriedades que permitem colorir os tecidos sem a necessidade de água.
ECODESIGN POR MEIO DA REPARABILIDADE
Como a vida de um produto não termina com a sua compra, a Decathlon implementa também dispositivos que os tornam mais duráveis. A reparabilidade consiste na capacidade de oferecer uma solução em caso de quebra ou falha de um artigo. O seu potencial de reparação é definido por quatro critérios:
- disponibilidade de documentação
- possibilidade de ser desmontado
- disponibilidade de peças de reposição
- o preço da reparação
A ideia é que um produto ecodesign em termos de reparabilidade deve garantir que 80% das quebras e falhas mais comuns possam ser reparadas.
Ainda temos muitas outras ações com foco no nosso compromisso de redução da emissão de CO2, mas acreditamos que o design ecológico é uma das melhores maneiras que encontramos para reduzir o nosso impacto. Afinal, queremos vivenciar todas as maravilhas do esporte preservando na natureza.
Este artigo foi escrito por Emilie Langrené, Gerente de comunicação institucional da Decathlon Brasil