A estreia de “Mussum, o filmis”, que conta a história do ator por trás de um dos personagens mais icônicos da televisão, é a maior estreia nacional do ano, com faturamento de mais de R$2 milhões no final de semana de estreia (04 e 05 de novembro). Somente no último final de semana, mais 94 mil pessoas foram aos cinemas brasileiros para ver a performance do ator Aílton Graça na telona, de acordo com dados levantados pela ABRAPLEX (Associação Brasileira das Empresas Exibidoras Cinematográficas Operadoras de Multiplex).
“Mussum, o filmis” chega às salas em um momento em que os projetos sobre o estabelecimento obrigatório de Cota de Tela para filmes nacionais nas salas de cinema, que tramitam no Senado e na Câmara dos Deputados, levantam debates sobre quais os critérios para a escolha das produções que serão exibidas nas telonas e o período em que ficam disponíveis na programação.
Para Marcos Barros, presidente da ABRAPLEX, é preciso que fique claro para o público que os critérios são unicamente técnicos.
“Os programadores de cinema se baseiam em dados que mostram a demanda projetada para cada filme individualmente. São ferramentas públicas como o Google Trends e também empresas especializadas, como o Gower Street Analytics. O objetivo é atender a esta demanda, ou seja, colocar sessões de cada filme suficientes para que todos possam assistir. Não existe nenhuma diferença financeira entre o filme estrangeiro e o filme brasileiro nesse processo”, conta.
Barros destaca, ainda, que, diferentemente do produtor e do distribuidor, que são remunerados ao longo de toda a carreira do filme (cinema, PVOD, streaming, TV paga, TV aberta etc…), a única oportunidade para o exibidor está nos ingressos que ele vende durante as poucas semanas em que o filme fica em cartaz. “É de nosso total interesse que o filme performe bem”, finaliza
O outro lado
Criada pela Medida Provisória (MP) 2228/2001, a Cota de Tela pretendia privilegiar a exibição de filmes nacionais no cinema, através do estabelecimento de um número mínimo sessões, dias e horários nas telas grandes.
Ainda quando do debate sobre a validade da MP, em seu voto, o ministro Dias Toffoli entendeu que a cota de tela é mecanismo para proteger obras brasileiras e possibilitar a exibição da produção audiovisual nacional em salas de cinema. Seu propósito é social e econômico, pois fomenta a indústria nacional, amplia a concorrência no setor e promove geração de empregos.
Ele lembrou que, do ponto de vista econômico e estratégico, a medida é necessária, uma vez que o domínio internacional na exibição de filmes implica constante drenagem de recursos para fora do país.
A Cota não existe mais no Brasil desde abril de 2019, após passar por modificação ainda no governo Temer e, posteriormente, por Jair Bolsonaro.
No Congresso, o lobby das empresas exibidoras conseguiu retirar do Projeto de Lei os cinemas, o que teria frustrado artistas, diretores e produtores brasileiros que ainda esperaram uma reviravolta, com a colaboração do Ministério da Cultura.
Um levantamento da Agência Nacional do Cinema (Ancine), mostrou que o Brasil tinha 3.401 salas de cinema até o final de 2022. Produtores relacionam a pouca exibição de filmes brasileiros à falta da Cota. Isso, porque os melhores dias e horários das salas são predominantemente ocupados por filmes estrangeiros.