Nascido em Uberlândia, no Triângulo Mineiro, quando a cidade ainda se chamava São Pedro de Uberabinha, Grande Otelo (1915-1993), ou Sebastião Bernardes de Souza Prata, como consta em sua certidão de nascimento, foi o primeiro ator negro a ter protagonismo na história do cinema brasileiro.
O documentário “Othelo, o Grande” resgata a história do homem que foi pioneiro não só no teatro, mas também na TV, na música e no rádio. Dirigido por Lucas Rossi, o filme, vencedor do Prêmio Redentor de melhor documentário no Festival do Rio, será lançado no circuito nacional em 5 de setembro.
“De alguma maneira, Otelo abriu os caminhos para que a gente pudesse estar hoje trabalhando com cultura no país. Ele conseguiu fazer algo de muito valor para nós, pessoas pretas, porque sem a existência desse cara a gente não sabe onde estaria hoje”, observa Rossi, em recente entrevista para a imprensa nacional.
Otelo trabalhou com cineastas como Orson Welles, Joaquim Pedro de Andrade, Werner Herzog, Julio Bressane, Marcel Camus e Nelson Pereira dos Santos, e usou esse espaço para moldar sua própria narrativa e discutir o racismo institucional que o assombrou por oito décadas, duas ditaduras e mais de uma centena de filmes.
O filme oferece uma visão íntima e pessoal do homem que se tornou um ícone, deixando um legado inestimável na cultura brasileira. “Eu gosto de imaginar Otelo como um Exu, um orixá que abriu os caminhos para que pessoas negras pudessem estar aqui hoje, trabalhando com arte e cultura no Brasil, inclusive eu. A partir disso, o papel dele é de extrema importância, pois ele conseguiu abrir essa trilha para nós e colaborou não só como artista, mas como um Griô (ancestral que tem por vocação preservar e transmitir as histórias e conhecimentos do seu povo)”, explica Lucas H. Rossi.
A linguagem do filme tem como foco a abordagem do sujeito Sebastião por ele mesmo, em primeira pessoa. Negro, ator, umbandista, pai de cinco filhos e um homem cheio de feridas expostas ao lutar contra o racismo em uma vida marcada por tragédias desde a infância até a sua morte. Esse filme tem o objetivo de humanizar, desconstruir e desmistificar sua história com o humor típico de Grande Otelo. A escolha de fazer um filme todo de material de arquivo e de colocar Otelo para contar sua própria história foi um gesto para deixá-lo conduzir sua própria narrativa e não deixar que ninguém interferisse nela.
“Este documentário é também uma releitura política sobre Otelo e um resgate histórico da memória deste ícone da cultura brasileira que, como sempre, proporcionou ao público negro brasileiro excelentes oportunidades para se reconhecer nas telas”, reflete Rossi.
A equipe explica que a ideia de “abrir mão de trazer depoimentos de fora, a produção capta essencialmente a alma de seu protagonista, se afastando de possíveis narrativas exóticas e mistificadas sobre o artista. A necessária homenagem reabilita a imagem de Otelo para um público que tem deixado cair no esquecimento a memória desse talento ímpar”.
Narrado em primeira pessoa e utilizando imagens raras de arquivos, feitas em pesquisas na Cinemateca Brasileira e em vários outros arquivos no Brasil e nos Estados Unidos, o filme é produzido pela Franco Filmes, em coprodução com Globo Filmes, GloboNews, Canal Brasil, RioFilme e Baraúna Filmes, e conta com distribuição da Livres Filmes.
O documentário também participou de diversos festivais nacionais e internacionais, como a Mostra de S. Paulo, o 17º Encontro de Cinema Negro Zózimo Bulbul; 18º Festival Aruanda, onde recebeu o Prêmio de Melhor Montagem; e teve sua estreia internacional no prestigiado festival Blackstar no EUA, considerado o Sundance do cinema negro. Também passou pelo 17th Bali International Film Festival – Balinale; e acumula outras seleções em festivais internacionais previstos para o segundo semestre.
Fonte: Estado de Minas e Mundo Negro