O governo brasileiro dá mostras de que pretende retomar o compromisso firmado no Acordo de Paris, cujo ponto alto trata de zerar o desmatamento na Amazônia até 20230. Recentemente, Governadores da Amazônia Legal divulgaram a Carta de Cuiabá. No documento, defendem que a região, onde vivem cerca de 30 milhões de brasileiros, seja tratada de forma sustentável e estratégica para o Brasil.
Não por acaso, diversos países estão voltando a aportar recursos no Fundo Amazônia, apostando, dizem, na promoção de políticas de desenvolvimento sustentável, prevenção e combate ao desmatamento, inclusão social com base na economia florestal, promoção de ações afirmativas para produtos da bioeconomia e proteção de povos indígenas.
Por trás de todo esse esforço aparentemente coordenado, está uma nova economia, cujo tempo chegou.
Que a Amazônia é fonte importante para muitas oportunidades de negócios, todos sabemos. Alguns desses negócios, são um tanto nefastos para o mundo que convive com as mudanças climáticas, para os povos da floresta e o futuro da Amazônia. É caso do garimpo, a extração de madeira e as fazendas de gado em terras indígenas.
Como contraponto e tábua de salvação para a floresta e os brasileiros e brasileiras que lá vivem, a bioeconomia trás consigo uma gama de negócios ancorados na biodiversidade com tecnologia e inovação, a base principal da economia verde que não desmata, não queima a floresta, não polui rios e igarapés, não promove genocídio de povos originários e ainda tem compromisso com a inclusão social dos povos da cidade e da floresta, de onde vem o conhecimento ancestral e a cultura que também inspiram empresas nascentes na região.
Quando a ciência e a tecnologia se juntam ao conhecimento tradicional e à riqueza da biodiversidade amazônica, uma coleção de produtos inovadores como alimentos, cosméticos, vestuário e até biojoias nascem de negócios que buscam o lucro ou a partilha, respeitando a natureza e os recursos naturais.
Vamos conhecer alguns desses produtos da floresta em pé?
Couro ecológico
Na Floresta Nacional do Tapajós (Flona Tapajós), uma unidade de conservação localizada em Belterra, a produção de couro ecológico a partir do látex extraído das seringueiras é um exemplo de empreendedorismo comunitário que mantém a floresta em pé. Além de gerar renda para as comunidades indígenas e tradicionais amazônicas, a produção ajuda a manter a conservação da biodiversidade da região, já que as árvores utilizadas se recuperam e são utilizadas dentro de sua capacidade produtiva.
Café de açaí
Para quem gosta de tomar um bom café e não abre mão do consumo da bebida, uma alternativa diferente para fugir do tradicional é o café de açaí. Além de muito saboroso, também oferece benefícios para a saúde. O café de açaí foi criado por alguns agricultores que sofriam com a falta do café tradicional na região do estado do Pará. Ele é feito do caroço da fruta, o que é também uma medida sustentável, já que o caroço sempre costuma ser jogado fora. Detalhe importante: o café de açaí não contém cafeína. Embora seja mais comum em cidades do estado do Pará, onde foi inicialmente criado, hoje o café de açaí já pode ser encontrado com alguma facilidade em sites que trabalham com venda online, seja de grandes mercados ou de lojas especializadas em café.
Hidratantes de copaíba e tucumã
E produtos cosméticos diretamente da floresta? Pode ser um bálsamo de copaíba nanoencapsulado em manteiga de tucumã, desenvolvido a partir de insumos dos extrativistas da Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) do Uatumã, no Amazonas, 100% natural. Também tem um hidratante facial feito de copaíba e encapsulado em manteiga de cupuaçu. Ambos foram lançados em junho de 2022. O processo de nanoencapsulamento foi alvo de um depósito de patente em 2019 no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI). O produto foi desenvolvido em parceria com o Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo (IPT) e é fabricado pela Yosen, startup com foco em nanotecnologia instalada no Supera, parque de empresas inovadoras de Ribeirão Preto, no interior paulista.
Vinho de mandioca
A gastronomia e a cultura tupinambá inspiram alguns produtos. O mais famoso é um vinho de mandioca que ganhou o nome de Mani-Oara, de cor vermelho-alaranjada, com 8% de teor alcoólico. A fermentação utiliza fungos de uma outra bebida consumida pelos indígenas da região, chamada de tarubá, à base de mandioca. O vinho de mandioca foi desenvolvido pela bióloga e agricultora Raquel Tupinambá na Reserva Extrativista (Resex) Tapajós-Arapiuns, no Pará, onde ela nasceu, cresceu e vive ao lado da irmã, a agroecóloga Mariane Chaves. As irmãs buscam a certificação artesanal para poder comercialização. Além do vinho, elas produzem um molho de tucupi-preto, geleias e outros produtos que são vendidos apenas em mercados e feiras de Santarém e Alter do Chão.
O Sebrae promove nesta terça-feira, 27, uma websérie que destaca a participação de oito iniciativas em empreendedorismo verde no Inova Amazônia. São elas: Deveras Amazônia, Meu Pé de Árvore, Gin Luar, Bio6, Acmella, D’Amazônia, Biotech Mudas e Hylaea.