Esse 1º de agosto marca o dia em que, em apenas sete meses, a humanidade esgotou todos os recursos naturais que a Terra levaria 12 meses para regenerar. Isso significa que, para atender os atuais padrões de consumo dos seres humanos –incluindo toda a estrutura construída para sustentar o planeta–, seriam necessários 1.75 planetas Terra.
Este ano a data é concomitante ao maior evento esportivo do mundo, os Jogos Olímpicos –cuja 33ª edição da era moderna acontece de 26 de julho a 11 de agosto, em Paris, na França. Criando a expectativa que, assim como nas Olimpíadas, o Dia da Sobrecarga da Terra 2024 seja um lembrete do potencial das pessoas de, em colaboração pacífica e com fair play, transformar o cenário atual, de dupla emergência global (crises climática e de perda de biodiversidade), em um futuro saudável e sustentável em que sociedade e natureza vivam em harmonia.
No Brasil, o Dia da Sobrecarga da Terra chega um pouco mais tarde, em 4 de agosto. Ou seja, se todos os habitantes do planeta tivessem o mesmo estilo de vida que o da média nacional brasileira, o estoque anual da Terra terminaria três dias depois da marca mundial.
Os dados são da Global Footprint Network, organização internacional de pesquisa responsável pelo cálculo do Dia da Sobrecarga da Terra e da Pegada Ecológica, da qual a rede WWF é parceira.
Desafio de toda humanidade
Enquanto, em Paris, atletas de alta performance do mundo inteiro se preparam para superar seus limites e anseiam por quebrar recordes, o meio ambiente foca na maior e mais impactante competição de todas: o momento em que a exploração e o consumo de recursos naturais serão reduzidos ao ponto de evitar que a capacidade de renovação pela Terra seja excedida.
Mesmo com a tendência global de superação se estabilizando ao longo da última década, a humanidade tem ficado para trás nessa corrida quando o que se coloca em perspectiva são as metas ambientais de proteger 30% da biodiversidade e reduzir 45% das emissões de carbono para 2030. Somente essa redução adiaria o Dia da Sobrecarga da Terra em 22 dias por ano nos próximos seis anos.
Mas no lugar de ser postergada, a data tem chegado cada vez mais cedo. Mundialmente, a humanidade entra no cheque especial da natureza em 2024 apenas um dia antes que no ano anterior. Já o Brasil antecipou a data em oito dias. O marco desse ano é um dos mais precoces desde 1971, quando foi registrado pela primeira vez que a Terra esgotou os estoques naturais antes do ano acabar, em 25 de dezembro.
“A persistência nessa demanda abusiva por mais de meio século, tem levado a declínios na biodiversidade, ao excesso de gases de efeito de estufa na atmosfera e ao aumento da competição por alimentos e energia”, adverte o diretor científico da Global Footprint Network, David Lin. “Os sintomas estão se tornando mais evidentes com ondas de calor incomuns, incêndios florestais, secas e inundações”, observa.
No Brasil
As consequências desse uso descontrolado e irresponsável dos recursos naturais também têm tido consequências impossíveis de serem ignoradas no Brasil, como a severa seca na região Norte, as enchentes que assolaram o Rio Grande do Sul e as ondas de calor intenso em todo país.
Apesar dos sinais latentes e das ameaças constantes, o Congresso Nacional tramita diversos projetos de lei que podem contribuir com mais exploração da natureza e levar ao aumento da frequência e da intensidade da emergência climática.
Há recordes que não podem continuar sendo quebrados. Para mudar isso são necessárias ações urgentes para: barrar desmatamento e queimadas de florestas, diminuir o impacto de desastres climáticos extremos, evitar retrocessos na política ambiental brasileira, restaurar o que já foi perdido de biomas e ecossistemas e promover a justiça socioambiental para proteger todos, pessoas e natureza.