Como ciência, tecnologia e inovação podem transformar a segurança alimentar no Brasil? O documento Position Paper Bid analisa desafios e oportunidades em quatro dimensões da segurança alimentar: disponibilidade, acesso, utilização e estabilidade. Produzido por uma equipe multidisciplinar de especialistas do INCT Combate à Fome – composta por pesquisadores da USP e de outras instituições nacionais e internacionais – e com apoio da Red Latinoamericana de Agencias de Innovación (Relai) -, o relatório reúne propostas concretas para solucionar problemas críticos relacionados à segurança alimentar no Brasil. Para acessar o documento na íntegra clique neste link.
O position paper intitulado Alimentando o Futuro: Ciência, Tecnologia e Inovação para Segurança Alimentar no Brasil destaca soluções inovadoras para problemas como o acesso à água potável, a modernização das infraestruturas rurais e a promoção de cadeias de valor sustentáveis. Além disso, destaca a utilização de tecnologias avançadas, como a inteligência artificial e as ferramentas digitais para apoiar desde a produção até à distribuição de alimentos, reforçando a resiliência face aos desafios climáticos e sociais. O documento destaca a importância do fortalecimento das redes de investigação, do desenvolvimento de tecnologias locais e da inclusão digital como pilares fundamentais para a transformação dos sistemas alimentares.
“A insegurança alimentar não é um mero resultado da escassez de alimentos, mas sim uma construção social e política. Embora a insegurança alimentar seja um problema enfrentado pela maior parte do planeta, os países da América Latina e Caribe (ALC) têm prevalências superiores à média mundial (FAO et al., 2023a), com uma distribuição interna bastante desigual. Enquanto a prevalência de insegurança alimentar moderada e grave foi de 14,1% no Uruguai e de 15,9% na Costa Rica, entre 2019-2021, atingiu 55,8% da população guatemalteca e 82,5% dos haitianos (FAO, 2021)”, aponta o documento.
Segundo os autores, há, em curso, três graves ameaças globais à saúde e à sobrevivência humana: as pandemias de desnutrição, de obesidade (e sua relação com o desenvolvimento de doenças crônicas não transmissíveis – DCNT) e as mudanças climáticas. “Tais ameaças, que estão interligadas, constituem uma sindemia global. Antes vistas como condições divergentes e isoladas entre si, essas têm sido reconhecidas como fatores sinérgicos que coexistem no tempo e no espaço e compartilham determinantes sociais comuns.”

O relatório
Com autoria dos pesquisadores Dirce Maria Lobo Marchioni, Marcelo Cândido da Silva, Silvia Helena Galvão de Miranda, Antonio Mauro Saraiva, Alexandre Cláudio Botazzo Delbem, Betzabeth Slater Villar, Alisson Diego Machado, Katia Maria Pacheco dos Santos, Joice Genaro Gomes e Aline Rissatto Teixeira, o relatório não se restringe apenas à produção e ao consumo de alimentos, mas também diz respeito a todos os processos relacionados à alimentação, denominados de sistemas alimentares.
“Para a construção de sistemas alimentares saudáveis e sustentáveis, que promovam a saúde humana e respeitem os limites do planeta, são necessárias ações, programas e políticas públicas que articulem as diversas partes desse ambiente complexo, que envolve desde a produção de alimentos, passando pela sua distribuição e comercialização, até o consumo e descarte”, afirmam os autores no documento.
Entre os desafios citados no relatório está a segurança hídrica, que deve ser considerada a partir de diferentes tecnologias, desde aquelas chamadas de tecnologias sociais (que atrelam saber popular, organização social e conhecimento técnico-científico) até as tecnologias mais sofisticadas, que englobam as ferramentas de inteligência artificial (IA). Em relação às tecnologias sociais, o documento traz como exemplo o Programa de Cisternas, tecnologia de baixo custo desenvolvida no Brasil, em um contexto de necessidade de convivência com o semiárido, que conseguiu ganhar escala e ser incorporado à política pública, impactando a vida de milhares de pessoas que habitam áreas isoladas do País. “Estas tecnologias podem ser complementadas com tecnologias mais recentes, como polímeros naturais superabsorventes; mapas de retenção de água no solo; técnicas de cobertura morta e terraceamento que foram adaptadas para cada geografia/ bioma; irrigação inteligente com IA para predição do tempo; e mapeamento digital da lavoura”, citam.
Outro desafio é o acesso a modais de transporte para apoio à agricultura. Como afirmam os autores, “nos países da América Latina e Caribe, há a necessidade de criar, expandir e melhorar as infraestruturas viárias (hidrovias, ferrovias e rodovias), para viabilizar o escoamento da produção de alimentos de forma menos onerosa, econômica e ambientalmente, bem como ser ponto de apoio à logística – atividade fundamental na produção agrícola”. Segundo eles, a logística na agricultura está associada a toda cadeia produtiva da propriedade rural, sendo essencial para, entre outras atividades: garantir uma boa produção; armazenar adequadamente os produtos; otimizar a distribuição, reduzindo custos, garantindo qualidade e evitando perdas e desperdícios. Uma das soluções apontadas é o desenvolvimento de aplicativos e de plataformas que auxiliem na busca e na seleção de melhores alternativas aos custos atrelados ao transporte em cada etapa da cadeia.
Para os pesquisadores, há três pilares fundamentais para aprimorar a segurança alimentar: a promoção da pesquisa científica básica e tecnológica e a modernização e ampliação da infraestrutura de CT&I como um pacto geopolítico na América Latina e Caribe; o aumento dos financiamentos públicos e privados para o desenvolvimento da CT&I de segurança alimentar; e a formação, atração e fixação de recursos humanos com foco em segurança alimentar nos centros de ensino e pesquisa. “Entretanto, tais pilares somente poderão ser alicerçados por meio de ações públicas e privadas de recuperação ou fortalecimento da infraestrutura de pesquisa de universidades e demais Institutos de Ciência e Tecnologia (ICTs)”, afirmam. Assim, esse position paper é como um guia prático para governos, organizações e comunidades acadêmicas comprometidas com a erradicação da fome e a garantia da segurança alimentar na América Latina.
Acesse o position paper Alimentando o Futuro: Ciência, Tecnologia e Inovação para Segurança Alimentar no Brasil neste link.