A primeira noite dos desfiles das escolas de samba do Grupo Especial entregou todos os ingredientes de um monumental espetáculo de rara criatividade, capaz de deixar boquiabertos até mesmo os foliões mais acostumados à grandiosidade do carnaval da cidade do Rio de Janeiro.
Iluminação Cênica
Os carnavalescos das seis escolas que passaram pela avenida usaram e abusaram de um quesito capaz de realçar alegorias e surpreender nos desfiles da Sapucaí: a iluminação cênica. O sistema de iluminação da prefeitura do Rio conta com 570 refletores na Sapucaí, sendo 510 voltados para a pista. A cada torre sobre arquibancadas, há três moovings light que projetam luzes coloridas sobre qualquer elemento na Avenida e mais três refletores RGBW. Esse sistema conta com uma infraestrutura de 24 quilômetros de fibra ótica e 14 câmeras de visualização para sala de controle.
O comando do show de luzes acontece dentro da Sala de Controle da Iluminação Cênica, localizada no setor 10 da Sapucaí. O local possui duas mesas de controle operadas por técnicos que têm no currículo operações de grandes shows como Paul McCartney e Coldplay. Na frente dos iluminadores, há quatro TVs exibindo imagens em tempo real de todos os setores da Avenida, além de uma projeção 3D que mostra como as luzes estão sendo vistas pelo público. O investimento na tecnologia foi de R$ 18 milhões, segundo a Prefeitura.
Porto da Pedra
A Porto da Pedra entrou na Sapucaí às 22 horas, abrindo o desfile do Grupo Especial com alegorias muito bonitas. Outro destaque da escola foi a comissão de frente que chegou a levantar o público na Sapucaí com uso de truques de levitação e hologramas. O tigre rugia e o primeiro carro também abusou do recurso tecnológico do holograma. Porém, a última alegoria teve problemas para adentrar a Avenida, abrindo um enorme buraco que dificilmente deixou de ser percebido pelo jurados.
Beija-Flor
A Beija-Flor de Nilópolis foi a segunda escola a pisar na Avenida na primeira noite de desfiles do Grupo Especial. A escola entrou disposta a mostrar-se novamente gigante, sua marca registrada. O conjunto de alegorias e fantasias teve luxo e acabamento de muita qualidade. O desfile começou levantando o público com a comissão de frente que apostou no uso de pequenos elementos cenográficos, abrindo mão do tradicional tripé.
30 anos de parceria na Avenida
Outro destaque no desfile da azul e branco de Nilópolis foi a apresentação encantadora de Claudinho e Selminha Sorriso, o casal nota 10 de Mestre-Sala e Porta-Bandeira em 30 anos de parceria na Avenida.
Enredo
O carnavalesco João Vitor Araújo fez sua estreia à frente da Beija-Flor, coube a ele desenvolver o enredo “Um delírio de Carnaval na Maceió de Rás Gonguila”. A escola viajou devaneios de Benedito dos Santos, o Rás Gonguila, e embarcou numa jornada encantada de reis negros e folguedos afro-brasileiros, com as nobrezas de Maceió, de Nilópolis e da Etiópia.
Porém, nem tudo foi perfeito, a evolução, apesar de correta em boa parte do percurso, teve um grande deslize justamente em frente aos jurados, a quinta alegoria enguiçou por intermináveis minutos depois de entrar na avenida. Como as alas da frente seguiram, um grande buraco foi deixado.
Salgueiro
O Salgueiro foi a terceira escola a se apresentar na Marquês de Sapucaí neste domingo de carnaval do Grupo Especial. A agremiação parece ter reencontrado sua força na avenida, com o público cantando forte o samba-enredo, considerado o grande samba do carnaval pela crítica especializada. A vermelho e branco levou o enredo “Hutukara” para a avenida, em defesa dos povos Yanomami.
A comissão de frente fez uma bela apresentação, traduzindo muito bem o enredo e emocionando o público. O casal de mestre-sala e porta-bandeira arrasou na Avenida, mostrando leveza e entrosamento invejáveis. Sidcley Santos e Marcella Alves, vieram com uma fantasia de nome “Yakoana”, representando o pó alucinógeno utilizado nos rituais cotidianos dos xamãs na terra indígena Yanomami. A partir de sua inalação, os indígenas conseguem ver os xapiris, espíritos de luz protetores da floresta, que transmitem as mensagens de Omama através de cantos, colhidos das “árvores sábias” das partes mais remotas da Hutukara.
Alegorias
As alegorias pecaram um pouco nos acabamentos. Já as fantasias, abusaram do belo acabamento e definição das cores. Segundo especialistas, é possível que os jurados tiveram certa dificuldade para compreender o enredo ao longo do desfile.
O grande Samba-Enredo do Carnaval
O samba do Salgueiro é um verdadeiro manifesto em defesa dos povos originários e descreve o enredo com excelência. Composto por Pedrinho da Flor, Marcelo Motta, Arlindinho Cruz, Renato Galante, Dudu Nobre, Leonardo Gallo, Ramon Via13 e Ralfe Ribeiro, a obra musical teve ótimo rendimento na avenida. O intérprete Emerson Dias mostrou um belo desempenho ao cantar o samba, com força e empolgação, embalado pela bateria dos mestres Gustavo e Guilherme.
Grande-Rio levanta o público e faz o melhor desfile da noite
Após um sexto lugar ano passado, a Grande Rio mostrou que veio para brigar pelo título. A comissão de frente levantou o público, fazendo um belo uso da iluminação cênica da Sapucaí. Aliás, o Salgueiro abusou dos recursos disponibilizados pela tecnologia de iluminação do Sambódromo, destacando suas belíssimas alegorias e dialogando com o Samba-Emredo.
Comissão de Frente
Comandada por Hélio e Beth Bejani, a comissão de frente “Trovejou, escureceu!” viajou para tempos míticos, quando, segundo o imaginário Tupinambá, “o universo era provavelmente muito escuro”. A comissão se baseia no livro de Alberto Mussa, “Meu destino é ser Onça”, que, no início de tudo, reinava o mistério em meio ao caos.
Mestre-sala e Porta-bandeira
O primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira Daniel Werneck e Taciana Couto, trouxe na fantasia o bailar do “mundo inaugural”, quando a escuridão dominava o universo e o poder do Velho, o criador da humanidade, explodia em poeira cósmica. Na cabeça de Daniel os olhos da onça, o duo entre o preto e o prateado produzia um efeito maravilhoso. Assim como as plumas escuras na saia de Taciana embaixo do corpete todo brilhante em pedras preciosas prateadas.
Samba-enredo
A obra foi composta por Derê, Marcelinho Júnior, Robson Moratelli, Rafael Ribeiro, Tony Vietinã e Eduardo Queiroz. O tom místico do enredo confere ao samba-enredo da Grande Rio uma peculiaridade e beleza que o torna diferente dos demais.
Unidos da Tijuca
A Unidos da Tijuca homenageou Portugal em um desfile com destaque para bateria. Porém, nos quesitos evolução e harmonia, a Tijca mostrou inconsistências e um desfile burocrático. Em sua estreia pela Tijuca, o carnavalesco Alexandre Louzada mostrou bom trabalho no quesito fantasias.
Imperatriz Leopoldinense
O dia já estava clareando quando a ex-certinha de Ramos entrou na Avenida. A verde e branca mostrou que vem para brigar pelo bi-campeonato. A criatividade de Leandro Vieira voltou a fazer diferença e ainda teve o casal de Mestre-sala e Porta-bandeiras Pittty de Menezes e Mestre Lolo em mais uma avassaladora apresentação. O “Vai clarear” foi entoado na Avenida e ecoou por toda Sapucaí. A Imperatriz se coloca forte na briga pelo título. Com o enredo “Com a sorte virada para a lua, segundo o testamento da cigana Esmeralda”, a escola encerrou seu desfile com 1h09.