A Fundação Casa de Rui Barbosa (FCRB), em parceria com a Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UniRio), deu início, na tarde da última segunda-feira (12), às atividades do ciclo Memória, coração do futuro, com debates sobre as lutas pela democracia e pelos direitos humanos, bem como o papel de resistência das artes em diversos momentos históricos do Brasil. A conferência inaugural Memória, Democracia e Direitos Humanos foi conduzida pelo ministro dos Direitos Humanos e da Cidadania, Silvio Almeida, que apresentou um panorama da história da democracia e da formação da sociedade brasileira para os mais de 300 presentes no evento.
Além do ministro, a mesa de abertura contou com a participação da deputada federal Jandira Feghali, integrante da frente internacional de parlamentares em defesa da democracia; do reitor da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio), instituição parceira e apoiadora do evento, José da Costa Filho; e da ministra da Cultura, Margareth Menezes, que participou de forma remota.
Em sua fala de abertura, o presidente da Fundação, Alexandre Santini, dissertou sobre a programação do ciclo, que acontecerá até novembro e prevê diversas atividades, entre debates, apresentações artísticas, mostra de filmes temáticos, entre outros. Santini destacou ainda a importância de a FCRB realizar e dar protagonismo a esse relevante debate.
“Somos uma instituição dedicada aos temas de acervos, museus, arquivos, pensamento e pesquisa histórica. Entendemos que a reflexão sobre a memória é uma responsabilidade estratégica no atual contexto desafiador que vive a sociedade brasileira. A efeméride dos 60 anos do golpe militar é um momento que deve abrir gavetas e apontar caminhos no sentido da construção e consolidação da experiência democrática brasileira. Sem memória, não há futuro. E essa reflexão deve permear nossos passos no sentido da construção de políticas de Estado que repudiem a violência, a intolerância e o autoritarismo no nosso país. Olhar o passado para entender o presente é uma questão importante e decisiva para os tempos atuais, refletindo a memória, para que possamos construir um futuro com uma perspectiva de ampliação da democracia, dos direitos e do conhecimento”, afirmou.
Durante a Conferência, o ministro Silvio Almeida ressaltou que, até recentemente, era o desejo de esquecimento daqueles que queriam esconder os fatos, minimizando eventos históricos traumáticos, mas que agora o panorama mudou. Os novos desafios vão além do simples combate ao esquecimento do passado; enfrentamos também a distorção ativa da história, onde forças criam narrativas falsas que trocam vítimas por vilões e vilões por vítimas. Para Almeida, isso exige dos defensores dos direitos humanos e da democracia outra abordagem.
“Não queremos construir uma história única, até porque isso não existe. Queremos construir a riqueza de uma multiplicidade de possibilidades de interpretações do mundo, que soterre as iniciativas dos falsificadores sobre o passado. É fundamental que tudo seja debatido com a maior abertura possível em uma esfera pública democrática. É preciso incentivar os estudos científicos sobre o passado e o investimento público nas ciências humanas, incluindo bolsas de estudo, projetos de pesquisa, arquivos públicos, acervos de todos os tipos, digitalização de documentos históricos e divulgação científica. Nunca foi tão essencial para a sobrevivência do nosso mundo estudar o passado valorizando a História, a Filosofia e a Sociologia”, destacou.
O ministro ressaltou que a luta não deve se limitar ao combate ao esquecimento, mas também enfrentar a falsificação e distorção da história. Nesse sentido, é fundamental resguardar artistas e educadores, que são formadores estratégicos de opinião e defensores da verdade. A discussão abordou ainda o ataque à história e ao conhecimento acadêmico, destacando as recentes ofensivas contra professores e artistas no Brasil, com o objetivo de desacreditar e deslegitimar o saber. O ministro condenou a criação de narrativas falsas sobre o passado e a tentativa de substituir a história científica por distorções motivadas por interesses específicos.
“Precisamos defender nossos artistas e professores dos ataques direcionados a essas pessoas no país. Eles sabem que os artistas brasileiros têm a capacidade de falar com autoridade sobre o que é o Brasil, e calá-los é uma parte fundamental da estratégia dos falsificadores. Portanto, precisamos protegê-los. Não podemos aceitar que sejam coagidos pelas milícias digitais, nem permitir que amordacem quem ensina e quem difunde opinião. É necessária uma ação institucional firme contra essas ameaças. A construção do futuro exige que disputemos a narrativa da memória, que tentam distorcer a todo momento”, destacou.
“Nunca é demais falar sobre memória, democracia e direitos humanos porque a preservação da memória das injustiças sociais vividas por uma nação é importante para que nunca mais volte a acontecer. Toda nação, quando mergulha na reflexão sobre a construção de um futuro melhor para o seu povo, cumpre um papel fundamental fazendo debates sobre os direitos humanos. É um exercício, acima de tudo, de conscientização. Então, o que estamos fazendo nesse momento é contribuir para a construção de um mundo melhor, um futuro mais justo, consciente, sobretudo democrático para o nosso povo”, apontou Margareth Menezes.
Jandira Feghali ressaltou a importância de dar um exemplo de punição objetiva a quem atenta contra a democracia e a necessidade de uma atuação política firme. “Precisamos dar um exemplo de punição objetiva a quem atenta contra a democracia. Para que a escravidão, o fascismo e a ditadura não se repitam, a sociedade deve estar ciente das barbaridades históricas. Isso é possível por meio dos espaços de memória, como os museus e os debates públicos. Devemos atuar politicamente no enfrentamento desses valores que ameaçam o Estado Democrático de Direito e ter coragem e ousadia para disputar narrativas nos diversos campos, como a educação, a cultura e a comunicação. Com estratégia, devemos gerar conhecimento para todos.”
A conferência também contou com uma intervenção artística de Hip-Hop, slam, poesia marginal e Batalha do Conhecimento com a poeta e rapper Lorac BXD, o MC Mano Di, a MC Pitanga e o MC TH Fast, acompanhados pelo DJ LZ. A apresentação teve a curadoria e coordenação do Facilitador Cultural Johnny Cria.
A programação completa das próximas atividades do ciclo pode ser conferida aqui.
Sobre a atividade
A Iniciativa Memória, Coração do Futuro é uma realização da Fundação Casa de Rui Barbosa, instituição vinculada ao Ministério da Cultura (MinC), com apoio da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UniRio) e tem como objetivo a realização de um conjunto de eventos de difusão cultural, de natureza continuada, que discutem a preservação da memória e sua importância para a manutenção da democracia.
Sobre a Fundação Casa de Rui Barbosa
A Fundação Casa de Rui Barbosa (FCRB), vinculada ao Ministério da Cultura, é uma instituição federal dedicada ao desenvolvimento da cultura, pesquisa e ensino. A FCRB preserva um dos maiores acervos documentais do país, incluindo a casa de Rui Barbosa, sua biblioteca com mais de 30 mil volumes e seu arquivo pessoal com 60 mil documentos. Além disso, a Fundação promove estudos, conferências e eventos que incentivam a difusão da cultura e da memória no Brasil.