O Serviço Copernicus para as Alterações Climáticas (C3S) acaba de divulgar relatório em que confirma que 2024 foi o ano mais quente já registrado mundialmente e o primeiro em que a temperatura global ultrapassou a marca de 1,5 grau Celsius (°C) acima dos níveis pré-industrialização (1850 e 1900). O número era o limite de elevação determinado no Acordo de Paris para evitar desastres climáticos mais graves.
Aproximadamente 44 % da superfície do planeta foi afetada por estresse térmico forte e extremo, a temperatura da superfície do mar chegou a 20,87°C, valor acima da média dos últimos 30 anos, além da quantidade de vapor de água na atmosfera ter subido 5%.
De acordo com o documento, as mudanças induzidas pelo homem continuam a ser a principal causa das alterações climáticas, ao lado de outros fatores, como o El Niño Oscilação Sul (Enos), que contribuíram para as temperaturas incomuns observadas durante o ano, resultando no agravamento de incêndios florestais e inundações de grande porte.
“Esse relatório é muito preocupante, porque ele confirma o que já vinha acontecendo desde 2023, quando a temperatura sofreu um grande aumento; os cientistas previam aumento de 1,3°C por causa do Enos, o terceiro El Niño mais forte do registro histórico, que foi de meados de 2023 até abril de 2024, mas já em 2023 ele chegou perto de 1,5°C”, comenta o climatologista Carlos Nobre, pesquisador do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP e secretário de Políticas e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI).
“Depois que o El Niño acabou, imaginou-se que poderia haver uma pequena queda, porém, ao contrário, a temperatura aumentou mais ainda, o primeiro semestre de 2024 foi muito quente, e a situação continuou pelo resto do ano. O Copernicus compara com registros que começaram em 1850, mas na verdade, estudos arqueológicos comprovam que nunca a temperatura foi tão alta desde o último período interglacial, há 125 mil anos.”
O C3S é coordenado pela Comissão Europeia e pelo Centro Europeu de Previsões Meteorológicas de Médio Prazo (ECMWF), cujos cientistas têm monitorado os principais indicadores climáticos e reunido dados de temperatura diários, mensais e anuais sem precedentes ao longo do ano passado.
De acordo com o relatório, 2024 foi o ano mais quente nos registros de temperatura global desde 1850. O conjunto de dados de reanálise global ERA5 do C35 indica que a temperatura média global foi de 15,10°C, 0,72°C acima da média entre 1991 e 2020, e 0,12°C acima de 2023, o ano mais quente registrado anteriormente ano registrado, o que equivale a 1,6°C acima da estimativa da temperatura de 1850 a 1900, designada como o nível pré-industrial.
O documento relata que os últimos dez anos, entre 2015 e 2024, foram os mais quentes já registrados.
A temperatura média global mensal excedeu 1,5°C acima dos níveis pré-industriais em todos os meses desde julho de 2023, exceto em julho do ano passado.
O ano de 2024 foi o mais quente para todas as regiões continentais, exceto a Antártida e a Australásia, bem como para partes consideráveis do oceano, particularmente o Oceano Atlântico Norte, o Oceano Índico e o Oceano Pacífico ocidental.
Foram registradas três estações quentes recordes para a época correspondente do ano: inverno boreal (dezembro de 2023 a fevereiro de 2024), primavera boreal (março a maio) e verão boreal (junho a agosto) com 0,78°C, 0,68°C e 0,69 °C, respectivamente, acima da média de 1991 a 2020, e um novo recorde de temperatura média global diária foi alcançado em 22 de julho, com 17,16°C.
“A resposta às mudanças climáticas deve basear-se em evidências. O futuro está nas nossas mãos, uma ação rápida e decisiva ainda pode alterar a trajetória do nosso clima”, afirma Carlo Buontempo, diretor do C3S.