Em estudo liderado pelo Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP, o Projeto RUA ( Resiliência Urbana em Ação) propôs estratégias para fortalecer a capacidade das cidades de enfrentarem eventos climáticos extremos. Os pesquisadores analisam como as políticas públicas e ações locais podem reduzir riscos de desastres, com foco na distribuição desigual de vulnerabilidades entre territórios e populações.
Tatiana Tucunduva, pesquisadora do IEA (Instituto de Estudos Avançados da USP), explica que o projeto surgiu em 2024: “A gente observou que, apesar de existirem muitas instituições já atuando nessa gestão de riscos e pensando na prevenção de desastres, ainda havia uma carência de articulação muito grande entre elas, especialmente em nível municipal. Então a gente decidiu criar um espaço colaborativo para unir universidades, órgãos públicos, sociedade civil e setor privado na construção dessas soluções integradas. E o objetivo principal do RUA é promover uma cultura de resiliência urbana, com foco na prevenção, na resposta, na recuperação diante desses eventos climáticos extremos”.
Tatiana também explica que o projeto se baseia no Marco de Sendai, que é um referencial internacional para redução do risco de desastres, que ajuda a estruturar ações em cinco fases: prevenção, resposta, recuperação, reabilitação e reconstrução.
Metodologia
Filipe Antônio Marques Falcetta, engenheiro civil e pesquisador na área de Cidades, Infraestrutura e Meio Ambiente do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) , explica que a metodologia foi decidida em encontros mensais, com cada um dedicado à discussão de uma fase do Marco de Sendai. “Nesses encontros a gente recebeu dessas instituições informações cruciais para conseguirmos mapear boas práticas de gestão de desastres. E, a partir desse mapeamento de boas práticas de gestão de desastres, construímos o nosso diagnóstico sobre o panorama da gestão de riscos no País, principalmente no Estado de São Paulo, nesse primeiro momento.”
Por sua vez, Tatiana revela que já no primeiro encontro foram mapeadas 95 conexões entre as instituições ali presentes e identificadas 29 boas práticas em resposta a desastres e mais de 150 ações para recuperação pós-eventos extremos, ao mesmo tempo em que Falcetta alerta para o fato de que populações vulneráveis não têm clareza sobre como agir em crises, como rotas de fuga ou locais seguros. Os resultados também revelaram disparidades críticas na Defesa Civil, a instituição é acionada em múltiplas fases simultaneamente, com equipes limitadas para a demanda.
O projeto está sistematizando todas as descobertas em um caderno técnico para gestores públicos, com linguagem acessível para todos. “Temos percebido que muitos prefeitos e prefeitas assumem os seus municípios e não sabem nem por onde começar. Então, daí a importância de manter essa articulação viva. Esse é um dos grandes achados do RUA, que essa rede possa continuar atuando de uma forma coordenada, mesmo fora desse contexto de emergência, pensando principalmente naqueles mais vulneráveis que estão diante de uma situação tão complicada”, ressalta Tatiana. Os próximos passos do projeto incluem expandir a rede para outras esferas governamentais e promover capacitação comunitária, inspirada em modelos como o do Japão.
Fonte: Jornal da USP