Pesquisa inédita realizada pelo Sebrae, em parceria com o Instituto Datafolha, aponta que dentro da comunidade LGBTP, as pessoas trans ou travestis são as mais empreendedoras. Os dados mostram que 70% possuem ou demonstram interesse em ter um negócio próprio, sendo que 34% já lideram alguma atividade econômica.
Na média geral, entre o grupo LGBTP – que abrange pessoas lésbicas, gays, bissexuais, pansexuais, transgêneros e/ou travestis – o percentual de donos de negócios é de 24%. De acordo com o levantamento, para dois terços das pessoas trans e travestis, a identidade de gênero e orientação sexual foi influência determinante na decisão de ter um negócio próprio.
Mais do que proporcionar a independência financeira, o empreendedorismo pode construir espaços inclusivos, seguros e acolhedores para essa comunidade.
Márcio Borges, analista de Empreendedorismo Feminino, Diversidade e Inclusão do Sebrae.
No estudo, o Sebrae também buscou identificar as principais motivações da comunidade LGBTP para empreender. Entre pessoas trans/travestis e aquelas com renda familiar de até dois salários-mínimos mensais, a decisão de iniciar um negócio próprio é mais frequentemente impulsionada por necessidade.
“Identificamos que o empreendedorismo também é uma conquista contra a discriminação”, acrescenta Márcio. Segundo ele, o levantamento expõe que as situações de preconceito, em geral, são vivenciadas com maior frequência entre as pessoas trans e travestis quando comparados os dados dessa população com os da comunidade LGBTP como um todo.
Empreendedorismo nichado
Na hora de procurar um segmento para ter um negócio próprio, as pessoas trans ou travestis investem principalmente nos setores de Beleza, Estética, Comércio, Entretenimento e Cultura. O levantamento mostra que os percentuais variam muito quando comparado às pessoas LGBTP e as pessoas não LGBT+.
Enquanto entre as pessoas LGBTP, 14% atuam no setor de Entretenimento e Cultura, por exemplo, enquanto entre as pessoas não LGBT+ apenas 2% declararam atuar nesse segmento. Esse número cresce para 20% entre pessoas trans e travestis. O mesmo padrão se repete nos serviços de Beleza e Estética.
No que se refere aos canais de venda, 69% das pessoas trans e travestis que são donas de negócio atuam de modo on-line e presencial. O percentual é maior do que o apresentado entre as pessoas LGBTP, com 52%. Também de acordo com a pesquisa, 45% das pessoas LGBTP donas de negócio já tiveram outro negócio. Entre as pessoas trans e travestis, esse percentual é de 56%. Os motivos mais citados para ter encerrado o outro negócio envolvem, geralmente, questões pessoais e a dificuldade financeira.

Percepção de sucesso do negócio
O levantamento aponta ainda que as pessoas trans e travestis demonstram menor confiança em relação às chances de sucesso de empresas liderada por uma pessoa LGBT+. As pessoas que não fazem parte dessa comunidade tendem a ser mais otimistas (66%) em relação às chances de sucesso de uma empresa liderada por uma pessoa LGBT+ (57%). Por outro lado, pessoas trans e travestis demonstram menor confiança, com cerca de metade acreditando em boas chances de sucesso (48%).
Conquista de direitos
A formalização traz benefícios tanto para quem empreende quanto para o próprio negócio, mas é uma realidade ainda distante dos empreendedores trans e travestis, de acordo com a pesquisa. O grupo é o que tem menos volume de negócios formalizados no país, com mais da metade (53%) em situação informal. Nesse aspecto, o especialista do Sebrae destaca como ter um negócio formalizado pode ajudar os empreendedores LGBT+ na conquista de direitos.
Quando a pessoa formaliza seu negócio, ela tem acesso a benefícios previdenciários, como aposentadoria, auxílio-doença, entre outros. Isso dá tranquilidade para quem empreende e, por outro lado, dá garantias para que a empresa consiga buscar crédito, por exemplo.
Márcio Borges, analista de Empreendedorismo Feminino, Diversidade e Inclusão do Sebrae.
Ele acrescenta que a dificuldade de formalização para pessoas trans está diretamente relacionada à questão do nome social, constituindo-se barreiras ainda mais complexas do ponto de vista legal. “Sem a retificação, não é possível emitir o CNPJ com o nome social. Após a mudança, o novo nome precisa ser atualizado em todas as bases do governo, incluindo registros como o da Receita Federal”, explica Márcio.
Ele enfatiza que é papel do Sebrae orientar e dar apoio a todos os empreendedores sem distinção alguma, mas não há dúvida que alguns grupos precisam de uma atenção maior. “Com base em dados concretos, é possível propor soluções mais assertivas e personalizadas, que de fato atendam às necessidades desses empreendedores, permitindo que eles superem barreiras e conquistem seu espaço no mercado de maneira sustentável”, finaliza.
Por: Cibele Maciel | Agência Sebrae
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