O verão de 2024-2025 foi o sexto mais quente no Brasil desde 1961, segundo dados do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). Nesse período, a temperatura ficou 0,34°C acima da média e grandes volumes de chuva foram registrados em algumas regiões do País. Existem iniciativas que buscam reduzir os impactos das mudanças climáticas nas cidades, como o Movimento Resiliência Urbana em Ação (RUA).
O grupo possui estudos multidisciplinares e foca no mapeamento de práticas eficazes, no fortalecimento de redes de cooperação e no estímulo às políticas públicas, infraestrutura e gestão de riscos. Tatiana Tucunduva, pesquisadora que faz parte da equipe organizadora do projeto, e Carlos Nobre, titular da Cátedra Clima & Sustentabilidade do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP, comentam a importância de iniciativas como o RUA.
A pesquisadora expõe que a proposta do Movimento Resiliência Urbana em Ação é sugerir “um modelo de governança climática baseado em rede”, no qual há a união entre ciência e gestão pública, com participação da sociedade civil. O programa é inspirado no Marco de Sendai, acordo adotado em 2015 pela Organização das Nações Unidas (ONU), que define quatro prioridades para a redução do risco de desastres naturais: compreensão, fortalecimento da governança, investimentos em estudos de risco para a resiliência e a preparação para esses acontecimentos.
Cidades muito urbanizadas
De acordo com a ONU, as mudanças climáticas são “transformações a longo prazo nos padrões de temperatura e clima”. Elas podem ser naturais, mas o órgão aponta que as atividades humanas as ampliaram desde o início da Revolução Industrial, no século 18. Nobre destaca que as cidades muito urbanizadas, como São Paulo, convivem também com o fenômeno das ilhas de calor — a retenção de temperatura em zonas com concreto e asfalto, por exemplo, que se tornam mais quentes que zonas vizinhas. O professor lembra do apelido “terra da garoa”, dado à megalópole por seu chuvisco frequente: “Quando eu era criança, na década de 50, São Paulo ainda era a terra da garoa. […] A cidade foi ficando tão quente, tão quente, que depois dos anos 80, 90, já não tinha mais garoa”. Para ele, a restauração da cobertura vegetal dessas localidades é uma estratégia favorável nesse cenário.
O titular da Cátedra Clima & Sustentabilidade descreve que há a produção de simulações em relação ao aquecimento global, que ultrapassou a marca de 1,5°C em 2024. “Quando chegar a 2°C, como estariam os eventos extremos na região metropolitana de São Paulo se nós não continuarmos com a vegetação atual? Nós fazemos simulações trazendo muita vegetação, que a gente chama esponja verde urbana, para mostrar como, nesses cenários críticos, é essencial ter a restauração florestal em São Paulo”, explica. Segundo Carlos Nobre, caso não seja feita a redução da emissão de gases do efeito estufa, como o dióxido de carbono e o metano, “podemos chegar em 2100 com três a quatro graus mais quente, o que torna grande parte do planeta quase que inabitável”.
No dia 24 de abril (quinta-feira), ocorrerá um evento do RUA, que apresentará os resultados dos encontros técnicos realizados pelo grupo. Também serão mostradas as estratégias da organização, conforme o Marco de Sendai, e o objetivo é engajar novos participantes e consolidar as suas diretrizes, alinhadas à agenda climática de São Paulo. A atividade será realizada na Sala do Conselho Universitário da USP, Rua da Reitoria, 374, na Cidade Universitária. Mais informações podem ser obtidas neste link.