Publicado em 10/07/2023, às 12:37hs.
Especialistas que participaram do 1º Seminário Mangues do Sul do Brasil, realizado na tarde desta sexta-feira (7), na Assembleia Legislativa, explicaram que os mangues, mais conhecidos como abrigos e viveiros de diversas espécies aquáticas e terrestres, são campeões no estoque e no sequestro do carbono e têm previsão de expansão por causa do aquecimento global.
“Ao realizar a fotossíntese incorporam carbono à sua biomassa, nas raízes, caules, folhas, frutas e sedimentos. No mangue o carbono está circulando do meio marinho para o terrestre e dos rios para o oceano. O manguezal é mais eficiente principalmente por causa da estocagem no solo”, apontou Paulo Pagliosa, professor de Oceanografia da UFSC e pesquisador da ecologia dos estuários.
Segundo Pagliosa, uma árvore do mangue estoca quatro vezes mais carbono que uma árvore terrestre.
“É uma máquina incorporadora de carbono e podemos pensar este sistema tendo esta função particular. O Brasil possui a segunda maior área de manguezal do planeta, com 9% do carbono estocado nos manguezais do planeta todo e com uma taxa de sequestro de 15% a 30% maior do que as taxas de outros lugares”, pontuou.
Crescendo com o aumento do nível do mar
Pagliosa também apontou o crescimento das áreas de mangue devido ao aquecimento global e o consequente aumento do nível dos oceanos.
“Os modelos tanto em cenários otimistas como em pessimistas mostram que na região sul vai ter desenvolvimento de manguezais, uma vez que eles tendem a se expandir pela mudança na temperatura. A tropicalização do ambiente tende a favorecer o crescimento dos manguezais”, sustentou o professor da UFSC.
No caso da Lagoa da Conceição, que não continha mangues em seu entorno, já apresenta pequenas porções. E na lagoa de Santo Antônio dos Anjos, de Laguna, ponto mais ao sul em que o mangue cresce, o aumento das áreas de mangues ultrapassam um hectare por ano.
“O aumento do nível do mar em um metro provocará inicialmente uma migração do manguezal para uma área mais alta, com um desenvolvimento de um novo mangue”, afirmou Pagliosa, acrescentando que até 2030 áreas de Laguna, do Norte e do Sul da Ilha de Santa Catarina e do rio da Madre, em Paulo Lopes, serão inundadas.
Planejamento urbano falho
Para o geógrafo Luiz Pimenta, que atua no projeto Raízes da Cooperação no Parque da Serra do Tabuleiro, concordou com o cenário descrito por Pagliosa e questionou o planejamento territorial das cidades catarinenses.
“Tanto as pessoas de baixa renda quanto as de alta renda têm ocupado áreas de risco, parece que a gente não aprende com os nossos erros. E os planos diretores, o planejamento territorial das cidades catarinenses têm avançado no sentido de espremer esses ecossistemas, com indicativo de extinção de algumas áreas”, lamentou Pimenta.
No caso de Palhoça, alterações no plano diretor permitem a verticalização de áreas alagáveis, com prédios de 12, 15 e até 25 andares, com destaque para a praia da Pinheira.
“Para onde os mangues vão se as cidades estão ocupando as possíveis áreas que eles ocupariam com o aquecimento global”, questionou Pimenta.
O olhar dos gestores
Para o biólogo Marcos Maes, coordenador do Parque da Serra do Tabuleiro, há uma nova perspectiva para os ecossistemas da Serra do Tabuleiro, incluídos os mangues.
“Deixamos de ver as unidades de conservação como ilhas que não se pode tocar, não pode mexer. Elas são parte do território e agentes de transformação do território, não só estado sabe cuidar dessas áreas protegidas, têm uma série de agentes que sabem também”, advogou Maes.
Segundo o biólogo, também já está superada a ideia de mangues como espaços de aterro para construir cidades.
“Agora se percebeu que é um espaço que merece nosso olhar porque traz benefícios, depura a zona de transição entre o mar e a terra, é um berçário de vida e sabemos que atua como fixador de carbono, com enorme potencial”.
Os mangues na Ilha de Santa Catarina
As principais áreas de manguezais de Florianópolis estão localizadas na Estação Ecológica de Carijós e na Reserva Extrativista Marinha do Pirajubaé. Na primeira se encontram os mangues do Saco Grande e de Ratones, enquanto a segunda abriga o manguezal do Rio Tavares, o maior da Ilha, assim como parte do baixio de onde são recolhidos peixes, camarões e berbigões.
Iniciativa da Comissão do Meio Ambiente
O 1º Seminário Mangues do Sul do Brasil é uma iniciativa da Comissão de Turismo e Meio Ambiente da Casa, presidida pelo deputado Marquito (Psol).
“É uma honra receber o debate sobre os manguezais e acolher toda a discussão e poder contribuir de forma legislativa nessa construção”, declarou Marquito, que destacou o debate envolvendo a instituição da Declaração dos Direitos Universais dos Oceanos e dos Mares, além de reclamar da resistência de parlamentares da Casa às APAs da Baleia Franca e do Farol de Santa Marta.
Créditos: Vicente Schmitt/Agência AL