A publicação Inteligência Artificial para Participação apresenta as aplicações da inteligência artificial na participação política e na governança democrática em cidades inteligentes. Desenvolvido pela Cátedra Brasil na Universidade de Münster, na Alemanha, em parceria com o Centro Brasileiro da Universidade, o documento também destaca pontos a serem analisados na implementação dessas tecnologias e reforça a necessidade de debater as novas demandas estatais.

O professor José Carlos Vaz, da graduação e pós-graduação em Gestão de Políticas Públicas na Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP, explica os resultados do projeto, que analisou até que ponto é possível avançar na participação política on-line. “A gente tem uma certa crise da democracia […] e isso demanda um aprofundamento da participação dos cidadãos nas decisões públicas.” Vaz, que também é líder da Cátedra, afirma que o foco é entender as capacidades técnicas e tecnológicas das Prefeituras e o que é necessário desenvolver para aumentar a participação.
O relatório se relaciona com a tendência das Cidades Inteligentes, alinhadas aos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU). Esse modelo é comprometido com o desenvolvimento urbano e a inserção digital, ambos realizados de maneira sustentável. Nesse sentido, a utilização de aparatos é voltada para a resolução de problemas e a criação de oportunidades. A publicação é voltada para servidores e dirigentes públicos, técnicos de participação e para a sociedade civil. “A gente entende que é importante que todos saibam os potenciais dessas tecnologias e os riscos e se preparem, inclusive, para pressionar os governos por mais atuação, para intervirem sobre os processos participativos das cidades”, declara.
Inteligência artificial
O uso de inteligência artificial (IA) está relacionado a mecanismos que conseguem realizar tarefas até então restritas à inteligência humana. A IA generativa é um destaque recente nesse campo, segundo o documento. Sistemas como o ChatGPT e o DeepSeek fazem parte dessa classificação, que é capaz de criar novos conteúdos a partir de padrões e dados, os quais se ampliam conforme o uso.
No projeto da Cátedra Brasil há o orçamento participativo da cidade, no qual os cidadãos podem dar sugestões sobre o que vai entrar no orçamento público, que tem auxílio da inteligência artificial. “O cidadão entra lá e fala: ‘Olha, eu quero propor uma rede de ciclovias na zona leste de São Paulo’ e a IA o ajuda a escrever essa proposta. Vai fazendo perguntas, vai dizendo os objetivos que ele quer, vai trazendo esse pedido”, explica.
O professor cita as simulações computacionais da cidade, que podem ser utilizadas para analisar mais o todo, trechos do município e aspectos mais específicos, como pressões na mobilidade urbana, por exemplo. “A gente vai mostrando essas várias possibilidades tecnológicas, o quanto nós estamos mais próximos ou mais distantes delas e quais são os requisitos para que a gente possa implementá-las. Tem a inclusão digital, a proteção de dados e a dependência tecnológica, no sentido de orientar as decisões dos gestores públicos e das entidades da sociedade que pressionam por mais participação.”
No resto do mundo
José Carlos Vaz analisa que, por mais que existam poucas experiências semelhantes no mundo, o fenômeno vai se materializar logo: “Esse tipo de exemplo que eu dei é razoavelmente factível do ponto de vista tecnológico. A tecnologia está presente, o que é preciso desenvolver é treinar os modelos para eles saberem formular essas propostas de uma maneira acertada”. Para o professor, as ferramentas que ajudam na política pública ainda precisam de aperfeiçoamento.