A identidade visual de uma cidade é formada mais do que por fachadas, muros e ruas, mas pela cultura e beleza dos que viveram nela. Pelos caminhos de Floripa podemos descobrir uma história rica de ancestralidade e beleza negra, por meio de obras que enobrecem personalidades e sua história.
As obras do artista plástico e ativista social Bruno Barbi trazem uma leitura Afro no chamado Circuito Cidade Negra e completa 11 anos em fevereiro de 2023. A arte urbana de Barbi faz a recuperação e pintura das caixas de energia com pintura que traz uma identidade refletiva em rostos humanos com detalhes e características em fenótipos negros. Ele explica que suas pinturas são uma “manifestação absolutamente afetiva, comprometida e amorosa. Comecei a perceber nas redes sociais uma reverberação de identidade tanto de movimentos sociais e da própria população negra que se vê e se sente representada com esses trabalhos”.
“Tenho comprometimento com as causas de pessoas e comunidades que tem pouco acesso à cultura, mas que são extremamente ricas em suas características históricas e sociais.” (Bruno Barbi)
Para o artista, o mapeamento feito por ele, desde 2013, do número de caixas de luz no roteiro das comunidades do Maçico Morro da Cruz e Monte Serrat até o centro aproximam o as comunidades ao acesso à cultura. “Não que a população negra não esteja no centro ou nos bairros da cidade, mas há uma referência muito grande nessas áreas e isso é uma forma de reverenciar as pessoas das comunidades”, explica.
Bruno busca inspiração na paisagem humana que tece suas redes de sociabilidades pelos labirintos íngremes da comunidade e que se projeta morro acima. “As pessoas me inspiram, a beleza que cada um traz dentro de si está lá, em cada rosto e gesto. O meu trabalho é mostrar e estimular a arte por meio delas”, exalta.
Toda essa riqueza estética e cultural, quando se complementa com as belezas naturais da Ilha de Santa Catarina, dá samba, resistência cultural e por que não, turismo. Para Bruno, “o Afroturismo está esquecido pelo poder público e a cultura Negra sofre, por vezes, apropriação e, elitizadas, perdem a sua verdade essência. Isso quando não cai no esquecimento e se perde no tempo”. A solução, segundo Bruno, chama-se investimento e atenção não apenas do poder público, mas também do setor privado e da classe artística. “Temos uma cultura muito rica e diversa, que merece muitos mais projetos como: o ‘Circuito Cidade Negra’ e o programa cultural ‘Feira Afro Artesanal’, desenvolvidos aos pés da Escadaria do Rosário, no centro da cidade”, ressalta.
Os projetos para o futuro não param. Bruno Barbi faz visitas constantes à escolas e será um dos 19 artistas responsáveis pela produção de um livro sobre o famoso artista plástico Hassis (1926-2001) numa releitura de suas obras. Além da participação em movimentos sociais, nas comunidades, nos Morros, Bruno é um ativista cultural, sempre enaltecendo a força da cultura afrobrasileira. No dia 23 de março, durante as festividades de 350 anos de Floripa, Bruno coordenará uma atividade sobre o ativismo negro e a cultura Afro.