Entre os dias 11 e 14 de dezembro, ocorre em Brasília, a 6ª Conferência Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (CNSAN), um evento de grande importância para o debate e proposição de ações concretas no combate à fome e à desigualdade alimentar no Brasil.
Com o lema “Erradicar a fome e garantir direitos com comida de verdade, democracia e equidade”, a Conferência busca fortalecer a participação social e o engajamento do governo federal na produção de alimentos sustentáveis como instrumento motivador para sanar o desafio da superação da fome no Brasil e garantir o acesso à comida de verdade, com qualidade e de forma inclusiva e saudável.
A programação do primeiro dia do evento contou com Diálogo Inspirador, que teve o objetivo de intensificar o compromisso de todos os participantes com a erradicação da fome e o respeito à diversidade e pluralidade desde a forma de produção e cultivo até as formas de consumo de cada brasileiro e brasileira, respeitando culturas e costumes de cada um.
Elisabetta Recine, presidente do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea), enfatizou que o primeiro momento do encontro buscou agregar conhecimentos, diálogos e saberes pela pluralidade e diversidade dos participantes.
Durante os três dias de evento, serão discutidas estratégias para promover a produção e o acesso a alimentos regionais, respeitando as particularidades de cada localidade e valorizando a cultura alimentar local. A Conferência é uma oportunidade única para traçar estratégias e promover ações integradas, visando uma sociedade mais justa e igualitária no acesso aos alimentos.
Alimentação no campo, na cidade e em territórios indígenas
O Diálogo Inspirador trouxe reflexões distintas sobre a atual situação do país, seja pela falta ou má alimentação da população brasileira por meio dos ultraprocessados. Nas cidades, Tiaraju Pablo D’Andrea, professor da Universidade Federal de São Paulo e da Escola de Artes, Ciência e Humanidades da Universidade de São Paulo, pontuou que vários alimentos industrializados e até mesmo proibidos em outros países estão fartamente disponíveis nas periferias urbanas e nas favelas.
Para Fernanda Kaingáng, jurista, artista e líder indígena brasileira da etnia Caingangue e presidente do Museu do Índio, a situação dos últimos anos foi ainda mais grave. Além da fome sofrida pelo povo, a etnia Caingangue também enfrenta ameaças e a destruição das florestas para dar lugar ao garimpo ou à monocultura. As florestas são fundamentais para que povos indígenas produzam seus alimentos e mantenham culturas ancestrais. “Assegurar o direito ao território não é um discurso, é uma necessidade. A biodiversidade que nos sustenta, a terra não é fonte de recurso, ela é fonte de vida, fonte de alimento”, frisou Kaingáng.
A importância da produção de alimentos saudáveis, sustentáveis e de fácil acesso à população é inegável. Com o aumento da preocupação com a qualidade dos alimentos e a preservação do meio ambiente, o governo federal está trabalhando para uma alternativa que garanta uma alimentação adequada para todos.
João Pedro Stédile, economista e ativista da reforma agrária e das mudanças necessárias ao Brasil, destacou que para superar o problema da fome é necessário “medidas concretas de soberania e segurança alimentar, sobretudo, medidas que dêem condições ao povo de produzir seu próprio alimento”.
Ações como o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e Cozinhas Solidárias foram destacadas na fala do ministro do Desenvolvimento Social e Assistência Social, Família e Combate à Fome, Wellington Dias, que ressaltou que o Ministério tem metas integradas para redução da pobreza, geração de oportunidades e, principalmente: tirar o Brasil do mapa da fome.
O fácil acesso aos alimentos saudáveis desde a produção até à mesa dos brasileiros e brasileiras também é um ponto importante a ser considerado quando se trata de comida de verdade.
De acordo com o ministro do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA), Paulo Teixeira, a participação de organizações, cooperativas e associações são fundamentais para dar condições de produção, consumo e respeito às diferenças pela população. “Temos que promover a agricultura familiar porque ela tem um sistema alimentar tradicional de diversas complexidades brasileiras, e por isso, precisamos promover a diversidade”.
Feira da Sociobiodiversidade
Uma das grandes atrações do evento é a abertura da Feira da Sociobiodiversidade, que reunirá, até o final do evento, expositores e expositoras de diferentes regiões do país valorizando as culturas e produtos agroecológicos, a feira busca proporcionar a troca de conhecimento e o fortalecimento de redes de produção voltadas para a diversidade alimentar. Além disso, também serão apresentadas iniciativas relacionadas à produção de sementes, destacando a importância da preservação da biodiversidade para a segurança alimentar.
São ao todo 30 estandes que estão divulgando e comercializando produtos de várias comunidades e organizações da Amazônia, do Cerrado, da Mata Atlântica, Caatinga, Pantanal, Pampa e zona costeira do Brasil.
A 6ª CNSAN busca, portanto, fortalecer a importância da participação social na construção de políticas públicas voltadas para a segurança alimentar e nutricional. Com destaque para a participação ativa da sociedade civil e do governo federal, o evento busca propor medidas que garantam o direito fundamental de todos os brasileiros a uma alimentação saudável e de qualidade.