Em meados de 2024, a socióloga Nathália Oliveira, diretora-executiva da Iniciativa Negra por uma Nova Política de Drogas, sentou-se para conversar com a sambista Simone Tobias — ex-presidente da Camisa Verde e Branco, agremiação tradicional do bairro da Barra Funda, em São Paulo. A carnavalesca foi testemunha de lances importantes para a história do samba na cidade.
Foi na casa da família Tobias, um porão na rua Conselheiro Brotero, que os avós de Simone fundaram, em 1953, o então cordão carnavalesco que, anos depois, daria origem à escola.

Por muito tempo, os ensaios aconteceram na rua em frente ao imóvel. Pela casa dos Tobias, circularam alguns dos principais nomes da cena carnavalesca paulistana. Parte dessa movimentação, Simone acompanhou enquanto criança. “Mas esse lugar é maravilhoso. A gente tem que fazer um memorial do samba ali”, Nathália lembra de ter dito. Impossível: encravado num bairro que cresceu botando abaixo suas antigas moradias populares, o porão da Conselheiro Brotero desapareceu há muito tempo.
Mesmo destino tiveram outros edifícios e espaços que, espalhados pela Barra Funda, ajudavam a contar a história do samba na capital paulista. Fundado no século XIX, com forte presença negra, o bairro é considerado o berço do samba paulistano. Natália quer evitar que essa memória se perca.
Desde agosto do ano passado, a Iniciativa Negra desenvolve o projeto “Cartografias de Bambas: memória da presença negra em São Paulo”. Realizado em parceria com o Alma Preta Jornalismo e a Ponte Jornalismo, a empreitada inclui uma série de atividades e intervenções pensadas em conjunto com a comunidade local, e que devem ganhar vida ao longo de 2025.
A primeira delas é uma exposição, cuja abertura está marcada para o dia 26 de fevereiro, na antesala do Carvanal.
Fonte: Brasil de Direitos