Entre 2010 e 2022, o estado do Rio de Janeiro registrou 752 desastres naturais — como chuvas intensas, deslizamentos, enchentes e alagamentos — que resultaram em 1.523 mortes e mais de 49 mil anos de vida perdidos. Os dados são de um estudo da Universidade Federal Fluminense, publicado nesta sexta (18) na revista Epidemiologia e Serviços de Saúde, vinculada ao Sistema Único de Saúde (SUS). Os autores destacam que os impactos foram especialmente severos para mulheres e moradores de cinco municípios: Nova Friburgo, Petrópolis, Teresópolis, Niterói e Rio de Janeiro.
O cálculo de “anos de vida perdidos” — uma métrica de saúde pública que estima o tempo de vida interrompido por mortes precoces — chegou a 49.031,76 anos. Mais da metade desse total (54,2%) corresponde a vítimas do sexo feminino, que também foram maioria entre os óbitos (50,1%). As mulheres, segundo os autores, estão entre os grupos mais vulneráveis aos efeitos dos desastres, por fatores como menor renda, alto número de dependentes e menor acesso a infraestrutura básica.
A pesquisa combinou dados do Sistema Integrado de Informações sobre Desastres da Defesa Civil com os registros do Sistema de Informações Hospitalares do SUS. Foram considerados eventos naturais extremos classificados como movimentos de massa, inundações, alagamentos e chuvas intensas. Os autores identificaram que apenas cinco dos 92 municípios fluminenses concentraram 79,3% das mortes, revelando áreas prioritárias para ações de prevenção e resposta.
Além das perdas humanas, os desastres causaram prejuízos materiais estimados em R$ 12 bilhões. A maior parte ocorreu em unidades habitacionais (R$ 7,7 bilhões) e em obras de infraestrutura urbana (R$ 4 bilhões), afetando diretamente o cotidiano da população e a prestação de serviços essenciais como saúde e educação.
A faixa etária mais atingida foi a de 15 a 59 anos — economicamente ativa —, o que amplia o impacto socioeconômico das perdas. Os autores alertam que a perda de anos de vida representa também perda de produtividade e renda para o país. “Mesmo utilizando dados do SUS, que podem não conter a totalidade dos óbitos atribuíveis aos eventos, os resultados foram elevados”, afirma a pesquisadora Roberta Fernanda da Paz de Souza Paiva, uma das autoras do estudo.
Segundo Paiva, a identificação de áreas e grupos mais vulneráveis é fundamental para a formulação de políticas públicas mais eficazes. “A população vem sentindo impactos de diversas dimensões, reduzindo seu bem-estar, e principalmente desses grupos”, conclui.