Florianópolis vem registrando crescimento espantoso de contaminação por dengue. Na semana passada, a capital de Santa Catarina registrou a primeira morte por dengue hemorrágica. Uma mulher, de 34 anos, moradora da Trindade, bairro localizado entre o mangue da Bacia do Itacorubi e as comunidades do Maciço do Morro da Cruz.
Ainda que o Centro de Controle de Zoonoses tenha feito um trabalho incessante de aplicação de inseticidas, limpeza de terrenos abandonados, colocação de iscas nos bairros de maior incidência do mosquito Aedes aegypti e orientação sobre os cuidados básicos para que o mosquito não se prolifere, precisamos reconhecer que o problema de saúde pública não será resolvido sem atacar problemas estruturais que envolvem a reforma urbana.
O Brasil apresentou recorde de mortes por dengue em 2022. Foram 1016 óbitos e 1,45 milhão de casos registrados da doença. Nos primeiros meses de 2023, houve um salto de 45% no número de casos registrados. Autoridades de saúde estão apreensivas com o crescimento da contaminação na Região Sul, com destaque para os estados do Paraná e Santa Catarina, onde até então não havia casos e a população encontra-se mais suscetível.
O recém-lançado ebook do InfoDengue, Enfrentando a dengue nas favelas e periferias , destaca dois fatores para esse aumento expressivo de casos da doença no Sul: mudanças climáticas e o acelerado processo de favelização de áreas urbanas.
O ciclo de reprodução do aedes aegypti se acelera no calor. E o fenômeno climático La Niña responde pelo aumento do volume de chuvas. Calor e água parada respondem pela proliferação de milhares de incubadoras para o aedes aegypti, o mosquito da dengue.
Estudos revelam um outro dado preocupante, o aumento do número de pessoas vivendo em favelas e moradias irregulares. Na última década, dobrou a quantidade de favelas no Brasil – de 6.329 para 13.151 –, segundo dados da pesquisa Um país chamado favela 2022. O estudo estima que 17,1 milhões de brasileiros vivem nesses locais com baixa infraestrutura e pouca presença do poder público. O fenômeno é facilmente verificável em Florianópolis. Recentemente, a cidade recusou credenciamento para a faixa I do programa de habitação popular Minha Casa, Minha Vida, justamente a faixa que viabilizaria moradia de interesse social.
Onde falta a presença do Estado, na coleta regular do lixo, no saneamento básico, na saúde, sobra espaço para a proliferação de doenças como a dengue.
As campanhas visando conscientizar as pessoas a evitar o acúmulo de água em recipientes como vasos e pneus expostos à chuva, são válidas. Mas, é certo que sem atacar problemas estruturais como a necessária reforma urbana e a priorização de políticas de urbanização de favelas, o quadro presente mudará pouco, quase nada.
Crédito da imagem: PMF