Pela primeira vez desde o início do mapeamento, em 2017, o Atlas da Notícia identificou que o número de municípios considerados desertos de notícias é menor do que o de cidades que contam com ao menos um veículo de jornalístico.
Também é a primeira vez que veículos online compõem a maioria no Sudeste. O Projor e Volt Data Lab são responsáveis por realizar o mapeamento anualmente. Divulgado nesta quinta-feira, 10, censo de 2023 apesentou redução de 8,6% no total de desertos de notícias comparado ao dado de 2022. Mesmo assim, ainda há 2.712 cidades e 26 milhões de pessoas sem jornalismo local.
A maior redução aconteceu na região Norte, onde ocorreu queda de 30%. Além disso, a região não apresentou novos desertos de notícias. No entanto, 56% dos municípios do Nordeste não tem cobertura jornalística. Boa parte dessas cidades se concentra nos estados do Piauí e Rio Grande do Norte, onde 70% dos municípios são desertos de notícias.
Entre outros dados regionais, o estudo indicou que o Sudeste perdeu participação total de veículos jornalísticos. A região concentra 32% deles. Por outro lado, o Centro-Oeste concentra a menor proporção de desertos jornalísticos.
Para o Atlas da Notícia, a quantidade de municípios sem veículos jornalísticos diminuiu por uma série de motivos, entre eles a expansão do digital, identificação de rádios comuniárias, surgimento de iniciativas jornalísticas e melhoras na metodologia. Foram acrescidos 575 iniciativas nativas digitais e 239 rádios em relação ao mapa de 2022. Ambos os formatos representam 70% dos veículos existentes. Atualmente, há 5.245 veículos digitais e 4.836 rádios com conteúdo noticioso no Brasil.
Fechamentos
O Atlas da Notícia também acompanha o fechamento de veículos. Neste ano foram identificadas mais 39 organizações que encerraram as suas atividades. Com essas, são 942 as organizações registradas na base de dados e que foram fechadas nos últimos anos.
Os veículos impressos lideram essa triste estatística, com 532 fechamentos, mas há também na lista 317 iniciativas online, o que demonstra a fragilidade de parte desses empreendimentos.
Dos veículos digitais mapeados, 1.671 são blogs ou operam diretamente em plataformas de redes sociais. Esse número representa 32% dos veículos digitais mapeados pelo Atlas. Ainda que o tamanho do empreendimento não determine a qualidade de seu conteúdo, o jornalismo feito por empreendedores individuais tem alguns desafios a mais para sustentabilidade num ambiente em que a busca por diversidade de fontes de financiamento parece ser a regra.
Capacitação para gestão, experimentação de novos modelos de financiamento e políticas públicas que incentivem o surgimento e a sobrevivência de veículos de comunicação local são necessárias e urgentes para a garantia de um ambiente de boa oferta de informação de interesse público.
Sobretudo numa sociedade tão castigada pela desinformação, a sobrevivência do jornalismo local é a sobrevivência da própria democracia. O mapeamento dos desertos de notícias é também o mapa dos lugares onde a democracia corre mais riscos.