Em debate no segundo dia dos Diálogos Amazônicos, em Belém (PA), agentes públicos do Executivo federal e estadual apontaram a exploração da bioeconomia como alternativa para o desenvolvimento sustentável da Amazônia, com preservação da floresta, geração de empregos e garantia de qualidade de vida para as cerca de 30 milhões de pessoas que vivem na região.
Em entrevista coletiva após o encontro, o presidente da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil), Jorge Viana, disse que esse mercado internacional de produtos compatíveis com a floresta — com itens como pimenta do reino, castanhas, café, cacau, artesanato e dendê, entre outros — movimenta cerca de R$ 150 bilhões anuais.
A participação do Brasil é de cerca de R$ 300 milhões. “Estamos trabalhando juntos para ter política de crédito e ação para multiplicar exponencialmente essa participação”, destacou Viana. Segundo ele, do montante de US$ 28 bilhões em exportações da Amazônia, US$ 21 bilhões são do Pará, principalmente com minério e derivados. “Queremos diversificar, agregar outros componentes”, sugeriu.
Viana afirmou que o Pará abre um leque de oportunidades com o protagonismo no debate ambiental e que a Apex-Brasil vai apoiar para que haja uma grande transformação na agenda econômica das regiões Norte e Nordeste, possibilitando que empresas locais ganhem mercado internacional.
SELO AMAZÔNIA – Também presente na coletiva, o secretário de Economia Verde do Ministério de Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), Rodrigo Rollemberg, revelou que a pasta está trabalhando no lançamento do “Selo Amazônia”. A ideia é informar ao mundo que produtos como a castanha, o guaraná e o cacau amazônicos, ao serem adquiridos pelos consumidores finais, certificam um processo produtivo que garante qualidade de vida às populações da floresta, ajudando a preservá-la.
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL — O presidente da Embratur, Marcelo Freixo, apontou o turismo como ativo importante da bioeconomia. “O turismo é uma possibilidade, uma solução possível nesse projeto de bioeconomia. Uma das poucas e melhores possibilidades de compatibilizar desenvolvimento com conservação. A gente pode conservar floresta, memória e história, dos povos e da floresta, ao mesmo tempo que isso representa geração de emprego e renda”.
Para o presidente da Embratur, todos os eventos que estão ocorrendo (e estão previstos para acontecer) no estado amazônico — a Cúpula da Amazônia e a COP 30, em 2025 – são de extrema importância para a perspectiva de bioeconomia, do modelo de desenvolvimento e da concepção de país.
“Não é possível olhar para essa região e pensar que a preservação da floresta é incompatível com a preservação da memória, da cultura e da tradição de todos os povos que fizeram com que a floresta pudesse chegar até agora, minimamente protegida”. Freixo ainda argumentou que, daqui a algumas décadas, a Cúpula da Amazônia pode representar um marco da mudança do desenvolvimento do Brasil.
FINANCIAMENTO CLIMÁTICO — Assim como o presidente da Apex, que apontou a necessidade de recursos dos países desenvolvidos para pesquisas da biodiversidade e da bioeconomia, o governador do Pará, Helder Barbalho defendeu que o financiamento climático é extremamente importante. De acordo com o gestor, o governo anterior ignorou a diplomacia ambiental, mas as discussões já estão sendo retomadas.
“Dado os desafios que o planeta apresenta ao Brasil, o financiamento climático está aquém das responsabilidades que grandes nações devem ter para com o Brasil”, disse o governador. Conforme Barbalho, diferentemente das nações ricas, que tiveram seus modelos econômicos pautados na indústria, com largas emissões, o modelo do Brasil envolve floresta viva, o que representa uma diferença considerável em relação aos demais países. “Isso precisa ser monetizado”, atestou, destacando possibilidades da floresta viva com captura de carbono e componentes da bioeconomia.