Após 16 meses de expedição, cobrindo mais de 7.000 km da costa e 306 praias, a ONG Sea Shepherd Brasil, em parceria com o Instituto Oceanográfico da USP, apresenta os resultados iniciais da Expedição Ondas Limpas, o maior estudo já realizado sobre o perfil dos resíduos marinhos no Brasil. O estudo evidenciou a onipresença do plástico ao longo de todo o litoral do país.
A expedição percorreu 201 municípios brasileiros, do Chuí ao Oiapoque. Os resultados mostraram que 100% das praias do Brasil contêm resíduos plásticos, e microplásticos foram encontrados em 97% delas. Do total de resíduos, 91% são plásticos, sendo 61% itens descartáveis, como tampas de garrafa.
Além de trazer à tona o estado crítico da poluição marinha no país, o estudo também revelou que as praias mais isoladas e protegidas, como áreas de proteção integral, estão entre as mais afetadas por resíduos plásticos de uso único, expondo um paradoxo entre as zonas de conservação e a presença massiva de poluição.
Os dados coletados vão além dos números chocantes: oferecem um panorama profundo sobre os tipos de plásticos e resíduos, destacando a importância de políticas públicas mais robustas e ações governamentais urgentes para enfrentar a crise da poluição.
“Pretendemos que os resultados do projeto não somente choquem, mas provoquem a ação, trazendo à tona a necessidade de políticas públicas e de uma mudança na cultura de consumo de plástico no Brasil.”, afirma Nathalie Gil, presidente da Sea Shepherd Brasil.
A expedição seguiu uma metodologia científica rigorosa, seguindo o protocolo da UNEP para a coleta de dados, com amostras analisadas em laboratório para identificar a origem dos microplásticos. Um relatório resumido, com diagnósticos e propostas de soluções, já está disponível, e o lançamento de um artigo científico mais detalhado está previsto.
“Esta parceria tem a importante missão de realizar uma leitura abrangente do perfil dos resíduos na costa do Brasil como nunca antes feita no mundo”, afirma Alexander Turra, Professor do Instituto Oceanográfico da USP e Coordenador da Cátedra Unesco para a Sustentabilidade do Oceano.
Praia de Florianópolis é a mais contaminada do país
O estudo mapeou as regiões mais e menos afetadas pela poluição, destacando áreas críticas. Cidades do sul e sudeste estão entre as mais impactadas. A praia do Pântano do Sul, em Florianópolis, apresentou os maiores níveis de contaminação do país. Esses dados estão disponíveis em uma plataforma interativa digital, onde o público pode explorar as praias, cidades e estados mais e menos poluídos, categorizados por tipo de resíduo, facilitando a análise e visualização dos dados.
Embora o estudo apresente um ranking de praias e cidades mais poluídas, é importante considerar com cautela os resultados dessas análises mais focais, devido à menor representatividade do tamanho das amostras em algumas áreas. Ainda assim, esses dados fornecem uma fotografia indicativa relevante para gestores locais, ajudando a orientar ações de limpeza e preservação.
Ao longo das 306 praias analisadas, foram encontrados 16 mil fragmentos de microplástico, ou seja, 1 resíduo a cada 2 metros quadrados.
Urgência pela gestão de resíduos
O estudo revela a necessidade urgente de uma gestão de resíduos mais sistêmica no Brasil, abrangendo tanto áreas isoladas e protegidas quanto grandes cidades que, apesar das políticas de gestão de resíduos, ainda enfrentam a persistência de plásticos em suas praias. De acordo com os representantes da ONG, os resultados da expedição reforçam a importância de mudanças estruturais no consumo de plásticos e a implementação de políticas públicas eficazes para proteger o oceano e garantir um futuro sustentável para as próximas gerações.