A Academia de Artes e Ciências Cinematográficas premiou, na noite deste domingo (10), os vencedores da 97ª edição do Oscar, considerada a premiação mundial de maior prestígio do cinema. ‘Ainda Estou Aqui’, aclamado drama biográfico brasileiro que acompanha a vida da família Paiva durante a ditadura militar no Brasil, leva o inédito Oscar de Melhor Filme Internacional. O diretor do longa brasileiro, Walter Salles, subiu ao palco do Dolbie Theater para receber a estatueta de ouro e dedicou a estauteta à família Paiva, Fernanda Torres e Fernanda Montenegro, mãe e filha que deram vida à Eunice Paiva. No Brasil, o feito inédito ganhou ares de Copa do Mundo em pleno carnaval.
“Estou muito honrado em receber isso, e em um grupo tão extraordinário de cineastas”, disse Salles durante seu discurso de aceitação. “Isso vai para uma mulher que, após uma perda sofrida durante um regime autoritário, decidiu não se curvar. E resistir. Então, esse prêmio vai para ela. E vai para as duas mulheres extraordinárias que lhe deram vida, Fernanda Torres e Fernanda Montenegro.”
O longa, baseado no livro homônimo de Marcelo Rubens Paiva, estava indicado em três categorias: Melhor Filme, Melhor Filme Internacional e Melhor Atriz, com Fernanda Torres concorrendo à estatueta.
O filme, que evoca a dor e o desespero da família Paiva, consegue estabelecer uma sutil ligação entre o presente e o passado brasileiro. Ele descreve o contexto autoritário do Regime Militar dos anos 1970, a partir da violência estatal descarregada sobre a família Paiva. Agentes públicos, jamais punidos pelo Estado brasileiro, mediante ordem, obviamente, destruíram o arranjo afetivo de uma família de classe média da cidade do Rio de Janeiro, com o uso de terror psicológico e físico.
O corpo de Rubens Paiva, brasileiro e democrata, simplesmente desapareceu. Antes, porém, Rubens Paiva foi brutalmente seviciado e assassinado por funcionários públicos da defesa nacional. A família de Rubens Paiva teve sua vida totalmente afetada. Eunice, interpretada por Fernanda Torres, teve que rapidamente assumir o papel de provedora da família, ainda sob efeito emocional da morte e do terror.
Eunice faleceu em 2018 aos 89 anos, em São Paulo, após conviver com a doença de Alzheimer por quinze anos.