A partir da economia verde e da transição energética, o Brasil pode retomar sua posição como um dos países mais industrializados do mundo, com impacto dos pequenos negócios na cadeia produtiva. Esta foi a tese defendida pelo Sebrae e pelo Ministério do Empreendedorismo, da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte, no 1º Seminário Nacional de Política Industrial, realizado em Brasília, na terça-feira (17). O evento reuniu parlamentares, entidades setoriais, representantes do governo e da Academia.
O vice-presidente da República e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, apontou a “neoindustrialização” como uma demanda urgente no Brasil. “Esse processo passa, necessariamente, pela inovação, pela criação de meios de produção mais sustentáveis e eficientes”. Segundo ele, o governo está adotando medidas para isso, como a política da depreciação acelerada dos bens de capital da indústria.
O parque industrial brasileiro está antigo, 14 anos em média. É preciso renová-lo para ganhar produtividade e eficiência.(Geraldo Alckmin, VPR e ministro do MDIC).
Na visão do ministro do Empreendedorismo, da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte, Márcio França, o Brasil deve focar nas próprias potencialidades e no conhecimento acumulado em algumas áreas, como a de energias limpas, ao promover a inovação na indústria nacional. “Há uma janela evidente de energia verde a ser criada. E o Brasil tem todas as condições climáticas e naturais para participar dessa janela como protagonista”, destacou França.
“A economia verde é o grande negócio do Brasil”, provocou Carlito Merss, gerente de Políticas Públicas do Sebrae. “Não podemos continuar sendo meros exportadores de commodities. Precisamos agregar valor aos produtos das pequenas, médias e grandes empresas”, defendeu Carlito, acrescentando: “Se não for pela consciência da sustentabilidade, vai ser o lucro do negócio que levará o Brasil a assumir a economia verde como virada”. Ele ainda destacou a importância de avançar na construção de políticas públicas favoráveis para construir o ciclo da inclusão e da prosperidade.
Na mesma linha, a presidente interina da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), Cecilia Vergara, citou a tecnologia, a inovação e o compromisso ambiental como pilares do desenvolvimento industrial: “Não há mais espaço para tratarmos o desenvolvimento econômico e social do país sem tratar a questão ambiental”.
Urgência na agenda política
Na abertura do Seminário, o presidente da comissão, deputado Heitor Schuch (PSB-RS), lembrou que o setor perdeu espaço na economia nacional nas últimas décadas. Em 2022, a indústria respondeu por 23,9% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro. Em 1985, representava 48%.
O diretor de Planejamento e Estruturação de Projetos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Nelson Barbosa, afirmou que a retomada da política industrial ganhou urgência na agenda política com a corrida comercial China-Estados Unidos. A disputa levou os países desenvolvidos a adotar políticas explícitas de incentivos ao setor. Para não ficar atrás, segundo Barbosa, o Brasil deve seguir o mesmo caminho, e tem potencial para isso.
Por sua vez, o diretor executivo da Global Federation of Competitiveness Councils, Roberto Alvarez, destacou que o Brasil acumula muita produção científica e pouca inovação nos últimos anos. Segundo ele, o foco deve ser transformar conhecimento em valor econômico, se possível, alterando a legislação para permitir que universidades interajam melhor com o setor produtivo. “Conhecimento e empreendedorismo são os motores da inovação”, disse.
Nova onda
O diretor de educação e tecnologia da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Rafael Lucchesi, também defendeu a criação de “uma nova onda de industrialização”. “Isso vai ser chave para a nossa quadra histórica. E, para isso, temos que ter um ambiente institucional”, afirmou. Lucchesi acrescentou que a indústria é fundamental na agenda de desenvolvimento nacional. “Que país se desenvolveu no mundo sem desenvolver a estrutura industrial? Nenhum”, declarou.
Sobre o evento
O seminário foi realizado pela Comissão de Indústria, Comércio e Serviços da Câmara dos Deputados, aconteceu no auditório Nereu Ramos e promoveu discussões sobre o papel da indústria no contexto internacional, além de temas como inovação, sustentabilidade e competitividade. Além da participação do Sebrae, o evento contou com representantes de universidades, órgãos governamentais, entidades empresariais e organizações de pesquisa.