O cinema brasileiro comemora 125 anos nesta segunda-feira, (19), e a data não poderia ser celebrada com um presente maior. Está de volta ao país um importante acervo cinematográfico com 144 obras nacionais, um verdadeiro tesouro que estava em Roma, na Itália, desde 1979, e agora retorna à guarda da Agência Nacional do Cinema (ANCINE), vinculada ao Ministério da Cultura (MinC).
“Uma vitória da cultura neste dia especial! É muito simbólico que no ano que retomamos o Ministério, que os investimentos no audiovisual voltaram, a gente consiga trazer de volta esse valioso patrimônio do cinema nacional. O retorno desse acervo é um reencontro do país com sua própria cultura, com sua memória e sua identidade. Reforça também a importância do trabalho de preservação e de difusão das obras para os estudiosos e os amantes do cinema, que será feito aqui pela Cinemateca Brasileira”, comemorou a ministra da Cultura, Margareth Menezes.
Os filmes antigos e de diversos gêneros estão distribuídos em 524 rolos em acetato, equivalente a quase duas toneladas. A chegada ao Brasil ocorreu neste sábado, 17, em uma verdadeira operação de resgate, digna de um bom filme de ação, que envolveu a Embaixada do Brasil em Roma, o Ministério das Relações Exteriores (MRE), a Força Aérea Brasileira (FAB), a Secretaria de Audiovisual do Ministério da Cultura (MinC) e a Agência Nacional do Cinema (ANCINE).
Segundo explicou o Chefe do Setor Cultural da Embaixada do Brasil em Roma, Hudson Caldeira, a repatriação dos filmes é um desejo antigo que, dada a complexidade da operação, ainda não havia sido realizada. No entanto, com a preparação da visita do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva a Roma, em junho de 2023, foi aberta uma nova oportunidade de enviar o patrimônio de forma segura ao Brasil, utilizando uma aeronave da FAB, com autorização da Presidência da República. A partir disso, da Secretaria do Audiovisual do MinC, a ANCINE e a Cinemateca Brasileira entraram em campo para organizar o recebimento e o encaminhamento dos filmes no país.
“É motivo de grande alegria o retorno ao país do importante acervo cinematográfico brasileiro em Roma, guardado pela Embaixada do Brasil desde 1979. É possível que haja ali títulos considerados “perdidos”, dos quais já não existem outras cópias no Brasil. Mas, mesmo o retorno de filmes de grande circulação, como o magnífico Vidas Secas, dirigido por Nelson Pereira dos Santos, deve ser comemorado, pois as cópias que estavam em Roma poderão ser úteis para restaurar matrizes e preservar a nossa memória cinematográfica. Outro benefício da repatriação é a possibilidade de disponibilizar esses filmes para o público em solo brasileiro. Por tudo isso, o retorno do acervo ao Brasil é uma grande vitória da nossa Cultura”, comemorou Hudson Caldeira.
A equipe da Embaixada cuidou da preparação e embalagem dos filmes em 81 caixas de cerca de 26 kg cada, além da contratação de transportadora italiana para levar a carga até o aeroporto de Ciampino, em Roma. A Embaixada produziu também toda a documentação necessária para a repatriação do acervo.
Por que o acervo estava em Roma?
O acervo encontrava-se em Roma, na Itália, desde outubro de 1979, quando foi fechado o escritório da antiga Embrafilme na capital italiana. Já em 1990, a empresa foi extinta antes de trazer os filmes de volta ao Brasil. Assim, as obras acabaram sob a custódia provisória da Embaixada do Brasil em Roma que tentou, por décadas, enviá-los de volta ao país.
Dadas as dificuldades técnicas e os altíssimos custos envolvidos em enviar o patrimônio por via postal, considerou-se mais adequado fazer o transporte por meio de aeronave da FAB.
Destino dos filmes
A Agência Nacional do Cinema (ANCINE) recebeu, por meio do Decreto nº 4.456/2002, a responsabilidade pela guarda dos acervos da antiga Embrafilme. As 144 obras que retornaram de Roma foram, portanto, recebidas pela ANCINE, mas serão repassadas à Cinemateca Brasileira, conforme prevê o termo de cooperação entre as duas entidades, firmado em 2007.
Dia do Cinema Brasileiro
Coincidentemente, o Dia do Cinema Nacional é celebrado em 19 de junho, pois homenageia Afonso Segretto (1875 – 1919), o ítalo-brasileiro considerado o primeiro cineasta nacional. Ele filmou a Baía da Guanabara, no Rio de Janeiro, quando estava a bordo do navio Brèsil, em 1898.
Segundo informações da Agência Brasil, o cineasta voltava da França, onde aprendeu técnicas de filmagem. O feito fez com que o dia 19 de junho se transformasse no Dia do Cinema Nacional. Outra data também é comumente celebrada pela sétima arte, o 5 de novembro (em 1896, houve a primeira exibição pública).
As históricas filmagens de junho de 1898 inspiraram o pioneiro para o documentário A Praia de Santa Luzia, realizado em parceira com o irmão dele, o empresário Paschoal Segreto.