Greve de roteiristas preocupa TV, Streaming e o mercado bilionário da publicidade. Após meses de tensões crescentes sem chegar a um acordo com grandes estúdios e plataformas de streaming, o Writers ‘Guild of America (associação dos roteiristas dos EUA) declarou oficialmente que a greve entrou em vigor na terça-feira passada, 2. De acordo com a associação, foram seis semanas de intensa negociação sem perspectiva de renovar o acordo anterior com estúdios e plataformas. A última greve ocorreu entre o final de 2007 e o início de 2008 e durou cem dias. A greve acendeu um alerta no Brasil, onde a precarização ganha espaço, deixando profissionais da área a beira de um ataque de nervos.
A Associação Brasileira de Autores Roteiristas (ABRA) declarou apoio à paralisação em território americano e afirmou que luta pelas mesmas pautas e direitos dos profissionais no Brasil. Rafael Peixoto, diretor de Políticas Públicas e Relações Institucionais da ABRA, afirma: “A gente está brigando, tanto lá quanto aqui, pela questão do pagamento dos diretos conexos e pelo não sucateamento da profissão do roteirista. Hoje, a gente é o início de todo o projeto audiovisual, tudo nasce no roteiro”.
O diretor ainda citou situações que envolvem o trabalho dos roteiristas, principalmente quando se fala sobre os streamings. Ele afirma, por exemplo, que as plataformas — ainda não regulamentadas no Brasil e, por isso, ainda sem garantias para profissionais — fecham contrato de exclusividade com roteiristas, mas só fazem o pagamento em caso de trabalho. “O desdobramento dessa greve lá [nos EUA] podem se refletir nas relações de trabalho entre os streamings e os roteiristas brasileiros. A gente espera que o governo cumpra sua função de fazer a regulamentação do streaming como já vem prometendo desde o início do governo”, finaliza Rafael.
TV e anunciantes não disfarçam preocupação
A greve ocorre no momento em que anunciantes e redes iniciam negociações para a temporada inicial, quando as marcas negociam compromissos publicitários de longo prazo. A preocupação das agências de publicidade com o estoque de programação é grande e a continuidade da greve pode desencadear enxurrada de reprises. As redações que ancoram programas populares na TV e no Streaming dos Estados Unidos, como Abbott Elementary, da ABC, e Cobra Kai, da Netflix, foram fechadas. Programas noturnos e o Saturday Night Live, da NBC, serão reprisados. E a CBS adiou seu evento de revelação da programação (o upfront) de outono, originalmente planejado para esta semana. Além disso, os manifestantes formaram piquetes fora dos estúdios e obscureceram completamente a entrada da apresentação do NewFronts, da Peacock. É uma ocorrência que deve impactar as apresentações durante a semana inicial da TV a partir de 15 de maio, na semana que vem.
A WGA afirmou que a greve foi declarada após falhas nas negociações com a Alliance of Motion Picture and Television Producers (Amptp) sobre salários e estabilidade no emprego. E isso tudo na era do streaming bem como em meio a restrições sobre o uso de inteligência artificial (IA) na escrita de roteiros.
“A direção e conselho do WGA, atuando sob autorização de seus membros, votou para declarar greve, efetiva a partir de 00h01 desta terça-feira, 2 de maio. A decisão foi tomada após seis semanas de negociações com Netflix, Amazon, Apple, Disney, Warner, NBC Universal, Paramount e Sony, sob o guarda-chuva da Alliance of Motion Picture and Television Producers (AMPTP)”, diz nota da WGA, publicada nas redes sociais.
A Aliança de Produtores de Filmes e TV afirma que a greve pode afetar cerca de 600 produções para cinema, televisão e streaming. Em um primeiro momento, a imprensa norte-americana já afirma que talk-shows de sucesso foram paralisados pela greve.