O que podemos aprender se escutarmos as pessoas mais velhas com atenção? Elas têm muito a nos ensinar sobre a vida, tanto pelas suas experiências quanto pelo modo como a enfrentam na atualidade. As pessoas mais velhas guardam para aqueles que queiram escutar as suas histórias cheias de força e coragem, de sorrisos e lágrimas, de sol e de chuva. Histórias e oportunidades nem sempre percebidas, não é mesmo?
“Envelhecer é como escalar uma grande montanha; enquanto você sobe as forças diminuem, mas o olhar é mais livre, a vista mais ampla e serena”.
– Ingmar Bergman –
A simples ideia de que a velhice nos afasta da vida sugere etarismo, o preconceito com as pessoas mais velhas. No mundo da comunicação, isso não é diferente e foi observado num estudo da pesquisa “A revolução da longevidade”, realizado pela AlmapBBDO e publicado em Meio&Mensagem. Entre os resultados, o estudo concluiu que pessoas mais velhas sentem-se invisíveis e desconsideradas pela comunicação.
Ao lado da Qualibest, a agência ouviu 1.055 pessoas das classes ABC, de todas as regiões do Brasil, entre 20 e 85 anos. Já com a Favela Diz, outra amostra contou com 300 indivíduos, também entre homens e mulheres dos 50 aos 85 anos, residentes em Paraisópolis, em São Paulo. A agência se concentrou também em uma fase qualitativa, a partir de entrevistas, discussões entre grupos intergeracionais, entre outros.
“Pensamos em mostrar para o mercado uma pessoa mais velha que ninguém conhece”, afirma Rita Almeida, head de estratégia da AlmapBBDO. “Achamos importante, além de falar do preconceito, ver como eles respondem a esse preconceito”, complementa. 64% das classes ABC e 77% da C e D, não conseguiram mencionar marcas com as quais se conectam. A conexão vem apenas em questões relacionadas a vulnerabilidades, como remédios, creme para as rugas, suplementos alimentares, fraldas, planos de saúde.
Dessa maneira, a falta de representatividade, espontaneidade e senso de pertencimento, além da insistência nas mesmas categorias, reflete na falta de desejo. Entre as fortalezas identificadas estão a pulsão de vida que mostra que, ao contrário dos efeitos da propaganda, pessoas mais velhas são seres desejantes motivados a viver a vida ao máximo. Além disso, há a coragem da reinvenção, desejo de deixar um legado, simplicidade, respeito ao tempo, acúmulo de vida e autoconhecimento.
Laços de família
A AlmapBBDO buscou entender quais os pilares de um bom envelhecimento. Para mais da metade (59% e 58% das classes AB e CE, respectivamente), é essencial ter laços bem estabelecidos. Neste sentido, a presença da família foi mencionada pelos dois grupos.
No que diz respeito ao estilo de vida, 66% receberam amigos em casa no último mes, enquanto 46% querem viajar igual ou mais do que 10 anos atrás e 42% têm a atividade como prioridade. Ao mesmo tempo, 33% fizeram mudanças e reformas no último ano e 18% disseram que guardam e investem dinheiro de olho no futuro. As informações vêm do Instituto Locomotiva e da Kantar Ibope Media, reunidos no estudo da AlmapBBDO.
Etarismo e comunicação
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) o Brasil será o sexto país mais velho do mundo daqui a três décadas. Isso significa algo como 15% da população em termos do público 60+. O segmento é o que mais compra e aluga imóveis, além de terem renda familiar 9% superior do que a média das famílias brasileiras.
Seus hábitos digitais são relevantes. Entre os 50+, 70% acessam a internet e 64% acessam as redes sociais todos os dias. Esse brasileiro respondeu por 43% das compras online no último ano. Ainda assim, o estudo revela preocupação com a exclusão digital dessa parcela da sociedade para além da falta de incentivos e subsídios para a aquisição de dispositivos eletrônicos e redes de internet. Existe, ainda, uma lacuna e um espaço aberto para investir na formação básica em tecnologias para esse público que se mostra ávido por aprender e se conectar. É neste sentido, também, que a pesquisa aborda a intergeracionalidade. A justificativa é a de que a questão da geração do senso de pertencimento e combate ao etarismo não deve partir de um pensamento excludente, mas sim fazer com que este público esteja integrado às demais gerações.
O Censo Demográfico das Agências Brasileiras, divulgado recentemente, indicou que apenas 5% do corpo de colaboradores das agências são ocupados por pessoas de 50 anos ou mais. O fato foi endossado pela head como um ponto de atenção frente à abordagem da temática no campo da comunicação: “Começamos a apresentação [dos resultados da pesquisa à AlmapBBDO] falando que, felizmente, várias facetas da diversidade estão sendo trabalhadas, mas, a etária não, pois o Brasil é alucinado e pautado pela juventude”, finaliza a head.