Entre os 100 indicadores de monitoramento dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) no Brasil, cinco são determinantes para a persistência da desnutrição infantil: o analfabetismo na população com 15 anos ou mais e o pré-natal insuficiente, observados sobretudo na região Norte; a prevalência de população ocupada entre 10 e 17 anos e o baixo peso ao nascer, mais recorrentes na região Sul; e a prevalência de mulheres de 15 a 24 anos que nem estudam nem trabalham, principalmente no Norte e Nordeste. É o que indica artigo de pesquisadores da Universidade Federal do Maranhão (UFMA) publicado na “Revista Brasileira de Epidemiologia” na sexta (31).
Norte, Nordeste e Centro-Oeste não atingiram metas
Com isto, a meta de redução da desnutrição infantil estabelecida até o ano de 2025 não será cumprida pelo Brasil, diz o estudo. Os ODS estimam acabar até 2030 com todas as formas de desnutrição, e atingir, até 2025, a redução de 40% no atraso no crescimento e, em relação ao baixo peso em crianças menores de 5 anos, sua redução e manutenção em menos de 5% da população. Já as metas nacionais, consideradas pelo estudo, incluem a baixa estatura para a idade em no máximo 3%. A maioria dos municípios que atingiram as metas estão no Sul (86,5%) e no Sudeste (81,8%). Nas regiões Nordeste, Norte e Centro-Oeste, os percentuais de municípios que atingiram a meta foram 70, 67,1 e 66%, respectivamente.
A pesquisa utiliza dados do Índice de Desenvolvimento Sustentável das Cidades — Brasil (IDSC-BR) de todos os municípios brasileiros divulgados em 2022. O IDSC-BR reúne dados de fontes nacionais, como o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), e internacionais, como órgãos ligados à Organização das Nações Unidas (ONU). Em seguida, os pesquisadores construíram uma Árvore de Classificação e Regressão (ACR) para selecionar os indicadores determinantes da prevalência da desnutrição infantil no Brasil.
No Sul, baixo peso ao nascer é fator determinante para desnutrição infantil
Entre os resultados mais surpreendentes, está a presença do indicador de baixo peso ao nascer como um dos determinantes da desnutrição infantil ser mais prevalente na região Sul. “As possíveis explicações seriam as altas taxas de subnotificação de nascidos vivos no Norte e a elevada taxa de partos cesáreos no Sul, relacionados à interrupção de gestações de risco, com consequente redução da idade gestacional, aumento da prematuridade e viabilidade de recém-nascidos com baixo peso extremo”, analisa a nutricionista Eliete Costa Oliveira, doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva da UFMA e primeira autora do artigo.
Ainda ao contrário do esperado, indicadores como percentual de pessoas abaixo da linha da pobreza, taxa de desemprego e percentual de domicílios em favelas não foram selecionados pela ACR.
Segundo Oliveira, as possibilidades de combate à desnutrição infantil devem passar pela melhoria na gestão dos recursos e o aumento de investimento nas regiões mais afetadas. “Conforme o estudo demonstrou, todos os indicadores determinantes da desnutrição infantil estão relacionados à pobreza e às desigualdades sociais. Portanto, torna-se necessário a criação e manutenção de políticas públicas voltadas para o público materno-infantil para melhorar a oferta dos serviços de saúde”, salienta. Melhorar a assistência pré-natal, ao parto e puerpério, investir na educação infantil e na melhora de acesso das mulheres ao mercado de trabalho em idade oportuna, de forma a reduzir a desigualdade de gênero, são medidas citadas pela pesquisadora.
O estudo obteve financiamento da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – Brasil (CAPES) e da Fundação de Pesquisa e Desenvolvimento Científico do Maranhão (FAPEMA). O grupo agora analisa a desnutrição infantil entre os anos de 2008 e 2023 e a sua tendência até o ano de 2030.
Fonte: Agência Bori